Monte Alverne
Morreu! — Assim baquêa a esta lua erguida
No alto do pedestal;
Assim o cedro das florestas virgens
Cahe pelo embate do corsel dos ventos
Na hora do temporal.
Morreu! — Fechou-se o portico sublime
De um paço secular;
Da mocidade a romaria augusta
Amanhã ante as pallidas ruinas
Ha de vir meditar!
Tinha na fronte de propheta ungido
A inspiração do céu.
Pela escada do púlpito moderno
Subio outrora festival mancebo
E Bossuet desceu!
Ah! que perdeste n'um só homem, claustro!
Era uma augusta voz;
Quando essa boca divinal se abria,
Mais viva a crença dissipava n'alma
Uma duvida atroz!
Era tempo? — a argila se alquebrava
N'um áspero crysol;
Corrido o véu pelos cançados olhos
Nem via o sol que lhe contava os dias,
Elle — fecundo sol!
A doença o prendia ao leito infausto
Da derradeira dor;
A terra reclamava o que era terra,
E o gelo dos invernos coroava
A fronte do orador.
Mas lá dentro o espirito fervente
Era como um fanal;
Não, não dormia nesse regio craneo
A alma gentil do Cicero dos pulpitos,
— Cuidadosa Vestal!
Era tempo! — O romeiro do deserto
Pára um dia tambem;
E ante a cidade que almejou por annos
Desdobra ura riso nos doridos labios,
Descança e passa além!
Cahiste! — Mas foi só a argila, o vaso,
Que o tempo derrubou;
Não todo á eça foi teu vulto olympico;
Como deixa o cometa uma aurea cauda,
A lembrança ficou!
O que hoje resta era a terrena purpura
Daquelle genio-rei;
A alma voou ao seio do infinito,
Voltou á patria das divinas glorias
O apostolo da lei.
Patria, curva o joelho ante esses restos
Do orador immortal!
Por esses labios não fallava um homem,
Era uma geração, um seculo inteiro,
Grande, monumental!
Morreu! — Assim baquêa a estatua erguida
No alto do pedestal;
Assim o cedro das florestas virgens
Cahe pelo embate do corsel dos ventos
Na hora do temporal!