Não é mel para boca de asno/IX
O casal voltou com efeito daí a alguns dias.
Hortênsia vinha bela como nunca; tinha na fronte o esplendor da esposa; a esposa tinha completado a donzela.
Meneses era um homem feliz. Amava e era amado. Estava no começo da vida, e ia fundar uma família. Sentia-se cheio de força e disposto a ser completamente feliz.
Poucos dias depois de chegarem à corte, Marques apareceu repentinamente no escritório de Meneses.
O primeiro encontro compreende-se que devia ser um tanto estranho. Meneses, que estava na plena consciência dos seus atos, recebeu Marques com um sorriso. Este procurou afetar uma alegria desmedida.
— Cheguei, meu caro Meneses, há quinze dias; e tive ímpetos de ir a Petrópolis; mas não pude. É inútil dizer que ia a Petrópolis para dar-te os meus sinceros parabéns.
— Senta-te, disse Meneses.
— Estás casado, disse Marques sentando-se, e casado com a minha noiva. Se eu fosse outro zangar-me-ia; mas, graças a Deus, tenho algum juízo. Acho que fizeste muito bem.
— Creio que sim, respondeu Meneses.
— Bem pesadas as coisas eu não amava a minha noiva como convinha que ela fosse amada. Não poderia fazê-la feliz, nem o seria eu próprio. Contigo é outra coisa.
— Então recebes assim alegremente...
— Pois então! Não há entre nós uma rivalidade; nenhuma competência nos separou. Foi apenas um episódio na minha vida que eu estimo ver que tivesse este desenlace. Em suma, tu vales mais do que eu; és mais digno dela...
— Fizeste boa viagem? atalhou Meneses.
— Magnífica.
E Marques entrou na exposição minuciosa da viagem, até que um abençoado procurador de causas veio interrompê-lo.
Meneses apertou a mão do amigo, oferecendo-lhe a casa.
— Lá irei, lá irei, mas peço que convenças a tua mulher de que não me há de receber acanhadamente. O que passou, passou: eu é que não valho nada.
— Adeus!
— Adeus!