Na Casa Defronte
Aspeto
- Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,
- Que felicidade há sempre!
- Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.
- São felizes, porque não sou eu.
- As crianças, que brincam às sacadas altas,
- Vivem entre vasos de flores,
- Sem dúvida, eternamente.
- As vozes, que sobem do interior do doméstico,
- Cantam sempre, sem dúvida.
- Sim, devem cantar.
- Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.
- Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
- O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.
- Que grande felicidade não ser eu!
- Mas os outros não sentirão assim também?
- Quais outros? Não há outros.
- O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
- Ou, quando se abre,
- É para as crianças brincarem na varanda de grades,
- Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
- Os outros nunca sentem.
- Quem sente somos nós,
- Sim, todos nós,
- Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.
- Nada! Não sei...
- Um nada que dói ...