No País dos Ianques/Introdução
Taine, o glorioso Taine, o querido filósofo cuja obra admirável tem sido uma espécie de bússola para os que se iniciam na complicada arte da palavra; Taine, o mestre, aconselhava sabiamente, com aquela profundeza de vista e com aquele raro e superior critério de artista e pensador:
Que chacun dise ce qu’il a vu, et seulement ce qu’il a vu; les observations, pourvu qu’elles soient personnelles et faites de bonne foi sont toujours utiles.
Devo a estas palavras a lembrança de escrever as múltiplas impressões, os sucessivos transportes de admiração, de júbilo e tristeza por que passou meu espírito durante alguns meses de viagem nos Estados Unidos.
A princípio afigurou-se-me obra de alevantado alcance e de extrema coragem traçar, ainda que ligeiramente, o plano de um livro sobre a grande nação americana, tão singular em seus costumes, em sua vida agitada e tumultuosa, em seus variadíssimos aspectos.
E de fato, esse trabalho, essa difícil tarefa demandaria, incontestavelmente, muito mais que uma soma de notas mais ou menos verdadeiras e algum estilo. Era preciso, antes de tudo, um elevado critério histórico e científico, grande cópia de conhecimentos e profundo espírito analítico.
Não se escreve a história de um país – a vida inteira de um povo – sem demorar-se em largo e paciente estudo sobre as suas origens, seus habitantes primitivos, sua evolução política e social, suas lutas intestinas e sobre os elementos que mais diretamente influíram para sua independência.
A eles, os historiadores e analistas da ciência, tão arriscada empresa.
Os poucos meses que passei nos Estados Unidos apenas me proporcionaram ensejo de admirar, através de um prisma todo pessoal, o progresso assombroso desse extraordinário país.
Compreendem-se, pois, os meus intuitos: nada mais que reproduzir, com a possível exatidão, o que vi, somente o que vi nessa interessante viagem ao país dos ianques.
Procurei ser espontâneo e simples, natural e lógico, evitando exageros de observação e o estilo rebuscado e palavroso dos que, à fina força, pretendem transformar a literatura numa simples arte mecânica de construir frases ocas e coloridas.
Escritas em 1890, as páginas que se vão ler podem não ter a importância de um estudo completo, mas de algum modo têm seu valor intrínseco.
Rio, 1.º de agosto de 1893.
Adolfo Caminha