O Brasil Anedótico/CCXXXIX
Tradição Oral.
Afonso Celso, visconde de Ouro-Preto, era de uma altanaria tal, que chegaram a atribuir ao seu orgulho a queda da monarquia. A sua atitude no quartel-general do Exército, quando Deodoro o intimou a deixar o poder, foi, realmente, a de um homem que se não dobra.
De regresso da Europa, onde estivera exilado, foi Ouro-Preto recebido do caís Faroux por grande multidão de amigos, de jornalistas, de antigos correligionários. De repente, avança um fotógrafo, e pede-lhe "pose" para as objetivas. O visconde destaca-se de um grupo de parentes e posta-se, isolado, a cabeça erguida, em desafio.
— Faz favor, sr. visconde ... — pede um dos fotógrafos, assestando a máquina:
E com um gesto da mão:
— Abaixe mais a cabeça... Sim?
A essas palavras, os olhos do velho estadista fuzilaram.
— Seria a primeira vez! — rugiu, com orgulho.
E abandonou a forma.