O Brasil Anedótico/XXXI

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Augusto de Lima — Discurso na Academia Brasileira de Letras, 1923

Comandava Saldanha da Gama uma das unidades da nossa esquadra quando, um dia, mandou aplicar algumas dezenas de chibatadas em um grumete de catadura feroz, o mais indisciplinado, talvez, do navio. Ao sofrer a pena, o marujo, com o corpo lanhado, sangrando e babando, jurou que, na primeira oportunidade, se vingaria do comandante, vibrando-lhe quatro punhaladas.

Saldanha mandou-o vir imediatamente à sua presença, no seu camarote. O marujo apresentou-se.

— Entra! Ordenou-lhe.

— Às ordens, "seu" comandante.

Saldanha fechou a porta por dentro, ficando aí apenas os dois.

— Faze-me a barba, — mandou, sentando-se, e indicando-lhe a navalha.

O marinheiro obedeceu. Mas de tal forma lhe tremia a mão, que estacou.

— Então?! — fez o comandante, reclamando.

E o grumete:

— Não posso mais, "seu" comandante... Tenho medo de "amolestá vossenhoria"!

E caiu de joelhos, em pranto, beijando-lhe as mãos.