O Escandalo do Petroleo/Apendice
Appendice
A Geofisica no Brasil
Ninguem faz hoje, no mundo inteiro, nenhuma exploração de subsolo, tanto para petroleo como para qualquer outro mineral, sem recorrer á geofisica. Como o brasileiro é sempre o ultimo a acordar, só agora a geofisica penetrou entre nós. A honra da grande iniciativa cabe a Alagoas.
Na revista americana “Science”, de 6 de junho p.p., vem um otimo artigo de Sherwin Kelly sobre a geofisica, no qual revela o tremendo impulso que a nova ciencia deu á descoberta de novos campos de petroleo naquele pais. Só em 1935, diz Kelly, os Estados Unidos gastaram com a aplicação dum só dos metodos geofisicos — o sismico — a quantia vertiginosa de 15 milhões de dolares, ou sejam quasi 300 mil contos em nossa moeda!
E é compensador isso? Sim, declara Kelly. Tremendamente compensador, pois graças aos estudos sismicos feitos em 1935, foram aumentadas as reservas americanas de 500 a 750 milhões de barris. A um dolar o barril, temos de 500 a 750 milhões de dolares conseguidos com o empate de 15. Melhor negocio não pode haver.
Quando os metodos geofisicos, continua Kelly, foram introduzidos no Texas e na Luiziania, em 1922, a industria petrolifera desses estados ia em pleno declinio. A produção decrescia; nenhum campo novo era descoberto. A geologia locara 47 domos e jurava não existir mais nenhum. Mas a geofisica imediatamente determinou numerosos domos abaixo dos horizontes até então explorados, e em pouco tempo localizou 116 novos estruturas petroliferas. Entre elas a de Sugarland, que até o ano passado havia produzido 21 milhões de barris.
Quem deu inicio á nova ciencia da geofisica foi o barão Roland von Eotvos, de Budapest, com a sua balança de torção. Consiste numa hastezinha metalica, pendurada pelo meio a um “fio de torção” e tendo nas extremidades pequenos pesos. Sua função essencial é determinar as menores variações da força de gravidade. E que tem a força de gravidade com o petroleo?
Faz-se necessaria uma pequena explicação.
A força de gravidade resulta da atração que um corpo exerce sobre outro. Essa atração depende da massa do corpo; é maior ou menor, conforme o corpo é maior ou menor — ou mais macisso. O chumbo é mais macisso que a madeira e porisso atrai mais que a madeira.
O subsolo é composto de camadas de rochas diferentes, umas mais compactas que outras. Rochas macissamente compactas, como o basalto, o granito, etc., possuem mais força de atração, ou de gravidade, que rochas menos compactas, como os shistos, os calcareos, os arenitos, o sal. De modo que quando a balança de torção é aplicada num ponto, o movimento da hastezinha indica onde está uma rocha mais compacta que as visinhas.
Desse modo, com varias aplicações da balança em certa zona, é perfeitamente possivel determinar a existencia de certas rochas compactas que se intrometeram pelas camadas das rochas sedimentarias menos compactas — e portanto é possivel determinar os domos de sal.
Esses domos de sal são acumulações de sal dos mares extintos, que por efeito de impulsos vindos de baixo se erguem e se intrometem pelas camadas de sedimentos, em geral sob forma de domos (montes redondos) de um, dois e tres quilometros de diametro. Geralmente o petroleo sobe com o sal, ficando acumulado nas beiras do domo e em baixo. Vem dai que a balança de torção, localizando os domos de sal, localiza tambem a estrutura mais favoravel ao acumulo de petroleo. Nos primeiros dez domos localizados pela balança de torção no Texas, nove revelaram petroleo nos anticlinios por eles formados.
O metodo geofisico que usa a balança de torção chama-se Gravimetrico. Foi empregado com muita eficacia em Alagoas determinando um grande “domo fechado”.
Temos depois o Metodo Sismico, empregado pela primeira vez no Brasil pela ELBOF, em Riacho Doce. O objetivo deste metodo é esclarecer pontos que o Metodo Gravimetrico deixa obscuros, em consequencia da má disposição das camadas. Baseia-se sobre a diferença de elasticidade das rochas e dá informações exatissimas sobre as aberrações das camadas que fogem ao normal, determinando rupturas ou “falhas”, bem como as anticlinais, as sinclinais, os “horsts” e “grabens”.
Executa-se por meio de explosões de dinamite. A vibração produzida é apanhada em varios pontos com os sismometros, e pelo registro da velocidade dessas vibrações determinam-se as rochas ou falhas ou grabens que as fizeram afastar-se do normal. Em Alagoas o metodo sismico provou de maneira absoluta que o cristalino está abaixo de mil metros.
O Metodo Magnetico se baseia na variação do campo magnetico terrestre normal. Essa variação pode ser provocada pela existencia no subsolo de certos minerais, como a magnetite ou a hematite; todas as rochas eruptivas interferem no magnetismo terrestre, fazendo-o sair da normalidade. Graças a isso esse metodo é de grande valor para a localização de minerios preciosos.
Os Metodos Geoeletricos servem para determinar os elementos bons ou maus condutores da eletricidade no subsolo. Bons condutores são os metais puros, os metais sulfiticos (menos a blenda de zinco), diversos oxidos de ferro, grafite, antracite, agua salgada, agua acida, acumulação de agua nas fendas e falhas. Outras rochas conduzem menos bem a corrente eletrica; outras são más condutoras.
Os Metodos Geoeletricos dividem-se em dois: o Galvanico e o Indutivo. O Galvanico determina as diferenças de condutibilidade do subsolo. O Indutivo aplica-se á procura de minerais e aguas salgadas. Duma exatidão absoluta, distingue perfeitamente os minerais da agua, dando-lhes a profundidade e a extensão da ocorrencia.
O Metodo Radioativo permite determinar substancias radioativas contidas no ar da terra, ou no ar das fendas e falhas. Para exame de fontes minerais, quasi sempre originadas de fendas e falhas profundas, dá otimos resultados.
Temos finalmente o Metodo de Gaz, ou de Laubmeyer, o qual constitue privilegio exclusivo da ELBOF. Seu grande valor está em ser o unico que diz diretamente com o petroleo. Dada a sua importancia no caso brasileiro, pedimos a Piepmeyer & Cia. uma noticia mais detalhada do mesmo, e recebemos esta informação:
Todos os metodos geofisicos só diziam respeito á localização das estruturas favoravels ao acumulo de petroleo. Fazia falta um metodo qualquer para a determinação direta dos hidrocarbonicos. A firma Piepmeyer & Cia., depois de longas experiencias cientificas, lançou na pratica, com muito sucesso, um aparelho conhecido como o “Laubmeyer Gaz Detector”, por meio do qual é possivel determinar com segurança os hidrocarbonicos das profundidades que emanam sob pressão.
O principio fundamental do processo é que os gazes das formações petroliferas difundem-se constantemente e renovam-se, produzidos sempre pela propria nafta. Baseados neste fato, podemos admitir que as pressões encontradas em portadores de petroleo são sempre mais altas que as observadas nas perfurações profundas. O gaz produzido pela ocorrencia petrolifera tem um poder de difusão proporcional á pressão da matriz, e maior que as essencias mais leves. Daí a hipotese extremamente cabivel de que esse gaz, sob pressão constante, se desprenda do lençol petrolifero e se difunda lentamente através das camadas superiores até escapar pela superficie terrestre. Essa marcha é de extrema lentidão, e é natural que, persistindo a pressão, haja renovação constante do gaz difundido, o qual ao chegar á superficie mistura-se com o ar existente na parte do solo em contacto com a camada atmosferica.
Uma determinada zona de difusão de gazes poderá ser representada por um cone invertido, cuja ponta está na ocorrencia petrolifera. Inutil observar que numa zona quebrada de fendas e falhas os gazes insinuam-se pelas mesmas. Ora, se esses gazes chegam até a superficie, embora em diluições infinitesimais, claro que podem ser determinados e medidos.
O aparelho de Laubmeyer foi adequado para registrar e medir diluições até de um litro desse gaz contido em 10 bilhões de litros de ar. Construido como um microcalorimetro, assemelha-se, em seu principio, aos aparelhos analisadores de fumaça. Especial atenção foi dada á construção do catalisador, pelo qual é conduzida a mistura de gaz e ar. Um aparelho, pois, de bases puramente fisicas, cujas leituras cabem em formulas matematicas.
Os levantamentos pelo metodo Laubmeyer são feitos como nos demais metodos geofisicos, isto é, por meio de perfis. As distancias entre os perfis e entre as estações de observação dependem do problema a resolver e das circumstancias geologicas da area a ser pesquisada.
Pelo exposto podemos concluir que graças ao metodo Laubmeyer torna-se possivel determinar a presença de gazes hidrocarbonicos vindos de grandes profundidades sob pressão.
A diferença entre os gazes hidrocarbonicos provenientes de lençoes petroliferos e o gaz de pantano pode ser estabelecida de maneira absoluta. O cone de difusão dos ultimos é menor e perfeitamente distinguivel nas curvas de gaz dos perfis.
Inumeras experiencias com o detector Laubmeyer tem sido feitas em varios paises. Ocorrencias outras que possam conter gaz, não dão indicação nenhuma nos respectivos perfis quando não existe ao lado, ou por baixo, difusão de gazes provenientes de formações hidrocarbonicas sob grande pressão. A pressão do gaz de petroleo retido nos shistos, por exemplo, é tão diminuta que não chega a permitir difusão nenhuma. Nos trabalhos geofisicos feitos em Riacho Doce (Alagoas) foi mais uma vez verificado isso. O aparelho Laubmeyer não determinou a presença de gaz em toda a zona estudada, apesar de toda a zona estudada assentar sobre uma camada de shisto bituminoso. Tambem nas imediações da perfuração que lá está sendo feita, o aparelho não registrou gaz, porque na sua tendencia de difundir-se pelos pontos de menor resistencia o gaz da zona em redor do poço naturalmente sae por este. Os registros começaram a acentuar-se a certa distancia da sonda, o que vem mais uma vez confirmar pesquisas identicas feitas em outros paises.
Os trabalhos realisados em varios campos da Alemanha (Oberg, Nienhagen e campos da Vacuum Oil Co) e na Rumania (campos de Ploesti) provaram cabalmente que o metodo Laubmeyer é de todo eficiente para a determinação dos hidrocarbonicos sob pressão.
O valor do metodo de gaz, como processo geofisico de pesquisa, revela-se indiretamente no empenho da maior firma construtora de aparelhos geofisicos do mundo, a ASKANIA, de Berlin, em obter licença universal para o fabrico dos aparelhos Laubmeyer, de que se acha atualmente encarregada.
Neste momento estão sendo executados nos Estados Unidos varias pesquisas pelo metodo Laubmeyer, por intermedio dos engenheiros da ASKANIA.
(a) PIEPMEYER & CIA.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.