O Escandalo do Petroleo/O que somos e o que pensamos ser
O que somos e o que
precisamos ser
O Brasil tem vivido cocainizado por uma ilusão — a de ter-se como um paraiso terreal, um país riquissimo, invejado pelos outros povos. Nem a bancarrota do estado, nem o nosso mal estar perpetuo, nem a penuria chinesa do que chamamos a classe baixa (isto é, 80% da população do país), nem a miseria intensissima observavel até nas capitais quando deixamos as avenidas e os bairros privilegiados, nada de tão terrível realidade arranca o brasileiro da mentira cronica em que se encoscorou.
Em todas as estatisticas de produção, de comercio, de riqueza nacional, de cultura, etc., o lugar do Brasil é entre os mais baixos da escala.
Tomemos a Dinamarca. Tem 44.000 quilometros quadrados e uma população de 3 milhões e meio de habitantes. Do tamanho do Espirito Santo, menor que Alagoas, Paraiba e Rio Grande do Norte, que são dos menores estados do Brasil — e no entanto produz, exporta e importa mais que o Brasil inteiro. Em 1929 a pequena Dinamarca exportou 480 milhões de dolares contra 414 exportados pelo Brasil; e importou 457 contra 456.
Alegam os patriotas incompreensivos que é por sermos um país novo. Somos tão novos como os Estados Unidos e a Argentina, países que tambem nos distanciaram em tudo — o primeiro dum modo fantastico.
Só do subsolo os Estados Unidos extraem mais de CEM MILHÕES DE CONTOS POR ANO. Nós com um subsolo equivalente só extraimos minhocas. Veja-se este quadro estatistico do Departamento of Commerce, abrangendo, o decenio de 1918 a 1927:
Temos aqui a media anual de 5 bilhões e 454 milhões de dolares, ou sejam mais de CEM MILHÕES DE CONTOS POR ANO em nossa moeda, o dolar a 19$000 — essa beleza que a mentira cronica nos deu.
Nada como graficos para meter pelos olhos a dentro as realidades. Nos graficos que seguem veremos o que é a nossa riqueza nacional, a nossa produção, o nosso comercio, etc., comparados com os equivalentes americanos. Tomamos os dados de anos normais, imediatamente anteriores á crise e aplicamos nos graficos sempre a mesma escala.
(calculo da Federal Trade Commission)
(calculo da Associação Comercial)
10.000.000.000 dolares
(Compare-se este algarismo com o da pagina fronteira)
do Brasil em 1927
Não é ultra doloroso isto? Não é ultra-vergonhoso que dispondo dum territorio em tudo equivalente ao dos Estados Unidos, nos deixassemos ficar numa bagagem degradante?
E como combatemos essa situação de inferioridade? Negando-a. Mentindo oficialmente. Mentindo agora pelo radio. Mentindo uma mentira sistematica e onimoda, que não engana a ninguem no mundo — nem sequer a nós mesmos.
Basta de cocaina. Tenhamos a coragem dum frio realismo. A mentira não constroe — destroe. Destroe a reputação de quem a impinge. Somos o povo mais desmoralizado do mundo em consequencia deste perpetuo regimen de mentiras adotado como atitude nacional. E no entanto poderemos nos equiparar aos Estados Unidos em grandeza, cultura, eficiencia e poder, se tomarmos pelos mesmos caminhos.
Que caminhos são esses? Os do sub-solo. A grandeza dos Estados Unidos vem de que mobilizaram e mobilizam as reservas do sub-solo. Vem de que se ferraram intensamente e ainda se ferram com as varias dezenas de milhões de toneladas de ferro que cada ano produzem — enquanto nós tropicamos eternamente desferrados pela estrada da vida em fora, sem a menor atenção para as montanhas de minerio que possuimos.
Vem de que abrem anualmente mais de .... 20.000 poços por onde esguicha o sangue da terra, o maravilhoso liquido que se transforma em energia mecanica e move os milhões de toneladas de ferro transfeito em maquinas aumentadoras da eficiencia do homem — enquanto nós abrimos anualmente 20.000 casas de loteria e bicho.
Vem, em suma, de que raciocinam com a cabeça — enquanto nós, queimando café em vez de queimar o Ministerio da Agricultura, damos ao mundo uma curiosa demonstração do perigo que é raciocinar com outros orgãos que não o cerebro...
Café é riqueza criada? Queima-se.
Ministerio é impedimento de riqueza? Conserva-se.
Está errado...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.