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O Fim do Mundo/I

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O FIM DO MUNDO
EM 1857





I.

Estava reservada ao Martinho a triste obrigação de escrever a lugubre historia do cataclysmo por que passou a cidade do Rio de Janeiro, e por que muito provavelmente ha de ter passado o mundo inteiro no fatal dia 13 de Junho.

Eu sou o novo Noé que sobreviveu ao novo diluvio! e sou ao mesmo tempo o Moysés do seculo das luzes que deve referir o infausto caso do fim do mundo no anno de 1857.

Não fui d'aquelles estouvados incredulos que zombárão da prophecia do conego de Liège; tive sempre a maior veneração pelos conegos, e não havia de ser em uma questão de cometa que o Martinho duvidasse da palavra de um conego.

Tambem não me contei no numero dos terroristas e dos aterrados, que, esperando, pelo fim do mundo no dia 13 de Junho, não pensárão em escapar ao dilúvio, e resolvêrão-se a morrer immoveis e caladinhos como carneiros.

A idéa de acabar como capão, perú, ou leitôa em dia de banquete me revoltava devéras. « Que! disse eu a mim mesmo, conversando com os meus botões; que! o Martinho, que tinha direito a considerar-se immortalisado pela fama, ha de assim sem mais nem menos perder a sua immortalidade, reduzido a torresmo pelo fogo da cauda de um cometa? »

Dizem que a diligencia é mãi da boa ventura : a industria humana póde vencer quasi o impossivel : puz-me a reflectir, a imaginar, a combinar; gastei n'isso mais tempo do que qualquer dos meus collegas em estudar a sua parte n'um drama novo, e por fim de contas dei um pulo, bati palmas, exclamei como Archimedes : Eureka!

Eureka era o meio que eu tinha descoberto para livrar-me das rabanadas do cometa e sobreviver ao cataclysmo.