O Porco e a Caixa
Um dia, Seu Leitão encontra uma caixa mágica que pode replicar qualquer coisa que você ponha nela.
Seu Leitão fica tão egoísta, em relação à caixa, e tão desconfiado de qualquer um que queira usá-la, que começa a tomar medidas drásticas. Ele força todo mundo a levar seus itens copiados pra casa em baldes especiais... baldes projetados para proteger, mas que podem não ser tão bons pra ninguém mais...
O Porco e a Caixa é uma fábula moderna que ensina crianças e adultos que, às vezes, sim, é uma boa idéia confiar e compartilhar.
SOBRE O AUTOR
MCM é um programador, escritor e artista ocasional de Victoria, Canadá. Ele tem duas filhas pequenas, e ambas gostam de dizer "Pirulito da Silva", apesar de isso não ter sentido algum.
SOBRE O TRADUTOR
Alexandre Oliva é desenvolvedor e ativista de Software Livre. Ele mora em Campinas, SP, Brasil, com sua esposa e sua filha pequena, que adora esta história.
O Porco e a Caixa
Por MCM
Tradução e adaptação de
Alexandre Oliva
Edição beneficente em prol da FSFLA,
Fundação Software Livre América Latina.
http://www.fsfla.org/
Copyright © MCM, 2006
Esta obra está disponível sob a licença CC-BY-SA 2.5 Canadá.
(Creative Commons Atribuição e Compartilhamento sob a mesma licença)
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Creative Commons
559 Nathan Abbott Way,
Stanford, California 94305, USA.
Tradução e adaptação de Alexandre Oliva lxoliva@fsfla.org para sua filha Larissa.
Copyright © Alexandre Oliva, 2008, licenciado nos mesmos termos acima.
Primeira Edição Livre do original ISBN: 0-9781527-0-0
Perguntas? email mcm.is.now@gmail.com
Para Akino e Caitlyn, minhas lindas pequenas lunáticas
Era uma vez um velho e solitário porco chamado Seu Leitão, que vivia numa pequena casa de campo. Assim como a maioria dos porcos, ele não tinha muita coisa. Às vezes, ele mal tinha o que comer. Era um suíno muito triste.
Numa manhã, Seu Leitão achou um rabanete bem grande em sua horta.
— Isso é um rabanete grande! — ele pensou. — Eu não lembro de ter plantado rabanetes. Muito menos dos gigantes. Isso tem que sair daqui. Então Seu Leitão puxou, tentou arrancar, fez muita força até que de repente... POP! O rabanete deu um pulo do chão e se partiu ao meio!
Dentro do rabanete havia uma caixa de madeira bem lisinha.
— Que lugar esquisito pra guardar uma caixa — pensou Seu Leitão. — Normalmente, a gente guarda rabanetes na caixa, não o contrário. Que bobão sairia por aí colocando caixas dentro de rabanetes?
Seu Leitão achou que a caixa era um ótimo lugar pra guardar cenouras. Então ele colheu uma cenoura de sua horta e jogou dentro da caixa. Nesse momento, uma coisa incrível aconteceu! A caixa se virou, e de dentro dela caíram VINTE E SETE CENOURAS!
Seu Leitão pensou:
— Eu tenho quase certeza de que eu não joguei vinte e sete cenouras ali. Isso é tão esquisito quanto uma vaca vestida de bailarina.
Seu Leitão precisava ver se não estava ficando biruta. Com muito cuidado, ele jogou UMA BATATA SÓ dentro da caixa. Num instante, a caixa se virou, e VINTE E SETE BATATAS CAÍRAM DELA!
Seu Leitão ficou animadíssimo. Ele tinha uma caixa mágica! Ficou tão feliz que quase fez xixi na calça. Ele sentiu naquele momento que não queria deixar ninguém mais usar a caixa, porque a caixa era só dele. Além do mais, provavelmente iam querer copiar coisas fedidas, como ovos podres e alho.
Então Seu Leitão colocou um aviso junto à caixa que dizia:
CAIXA MÁGICA
EXCLUSIVA DO LEITÃO
VÁ EMBORA!
Então ele levou suas vinte e sete cenouras e vinte e sete batatas pra dentro de casa.
Antes mesmo que ele fechasse a porta, um esquilo maluco veio correndo e saiu dançando como se tivesse abelhas na cueca.
— Pirulito da Silva! — gritou o esquilo.
— O quê? — perguntou Seu Leitão.
— Piiiiruliiito da Siiilva! — respondeu o esquilo, então Seu Leitão bateu a porta e voltou a preparar o almoço.
BLAM BLAM BLAM BLAM BLAM!
Alguém bateu na porta e Seu Leitão levou um susto. Ele correu até a porta, abriu e, ali no degrauzinho, encontrou uma pata, a Dona Pena.
— Eu qüééria usar a sua quááixa mágiqua, por favor — disse Dona Pena. — Eu qüééria quóópiar uma maçã e posso pagar quóóm uma moeda de ouro!
— Ah, tudo bem — falou Seu Leitão.
Eles foram lá fora junto à caixa, e Seu Leitão deixou Dona Pena jogar sua maçã dentro. A caixa se virou e VINTE E SETE MAÇÃS CAÍRAM DELA!
— Quááramba! — exclamou Dona Pena.
— Espere um pouco! — disse Seu Leitão. — O que é que você vai fazer com essas maçãs? Patos não comem maçãs.
— Bem... — começou Dona Pena.
— Você está MENTINDO! — gritou Seu Leitão, depois foi buscar um balde em sua casa.
— As maçãs vão aqui dentro — falou Seu Leitão. — Este é um balde mágico. Se alguém além de VOCÊ tentar tirar uma maçã do balde, todas as maçãs vão EXPLODIR!
— Mas por qüéé... — disse Dona Pena.
— Vá embora! — gritou Seu Leitão. — Eu não confio nem um pouco em você!
Ele mandou Dona Pena embora com seu balde cheio de maçãs, voltou pra dentro de casa e descobriu que a panela já tinha fervido, subido e escorrido.
BLAM BLAM BLAM BLAM BLAM!
Alguém bateu na porta e Seu Leitão deu um pulo de susto. Ele correu até a porta, abriu e, ali no degrauzinho, encontrou um lindo coelhinho, o Dentinho.
— Pirulito da Silva! — gritou Dentinho.
— O QUÊ? — perguntou Seu Leitão.
— Sei lá, um esquilo maluco me pediu pra dizer isso — falou Dentinho.
— Então, eu preciso copiar uma banana pra minha avó. Posso, por favor? Eu trouxe uma moeda de ouro também!
— Ah, tudo bem — falou Seu Leitão.
Eles foram lá fora junto à caixa, e Seu Leitão deixou Dentinho jogar sua banana dentro. A caixa se virou e VINTE E SETE BANANAS CAÍRAM DELA!
— Maneiro, cara! — disse Dentinho.
— Espere um pouco! — disse Seu Leitão. — O que é que você vai fazer com essas bananas? Coelhos não comem bananas.
— Heh, é uma história engraçada... — começou Dentinho.
— Você está MENTINDO! — gritou Seu Leitão, depois foi buscar outro balde dentro de casa.
— As bananas vão aqui dentro — Seu Leitão falou. — Este é um balde mágico. Se eu descobrir que você está fazendo alguma coisa ruim com essas bananas, só o que eu tenho de fazer é dar três pulinhos, e todas as bananas vão DESAPARECER!
— Mas, mas, mas... — disse Dentinho.
— Vá embora! — gritou Seu Leitão. — Eu não confio em você também!
Ele mandou Dentinho embora com seu balde cheio de bananas, voltou pra dentro de casa e descobriu que suas cenouras estavam pegando fogo.
BLAM BLAM BLAM BLAM BLAM!
Alguém bateu na porta e Seu Leitão deu um pulo até o teto! Ele correu até a porta, abriu e, ali no degrauzinho, encontrou uma lenta tartaruguinha, o Tatá.
— Eu teeenho um coooco — disse Tatá.
— É lindo — respondeu Seu Leitão.
— Eu queriiia vááários — falou Tatá. — E eu teeenho uma moeeeda de ooouro tambééém.
Seu Leitão só suspirou.
Eles foram lá fora junto à caixa, e Seu Leitão deixou Tatá jogar seu coco dentro. A caixa se virou e VINTE E SETE COCOS CAÍRAM DELA!
— Uuu. rrruuu. — comemorou Tatá, bem lentamente.
— Espere um pouco! — disse Seu Leitão. — O que é que você vai fazer com esses cocos? Tartarugas não comem cocos.
Tatá demorou tanto pra responder que Seu Leitão achou que ele tinha de estar mentindo sobre alguma coisa.
— Você está MENTINDO! — gritou Seu Leitão, depois foi buscar outro balde dentro de casa.
— Os cocos vão aqui dentro — Seu Leitão falou. — Este é um balde mágico. Se você tentar levá-los a qualquer lugar além da sua cozinha, o balde vai VOAR DE VOLTA PRA MIM!
— Mas... Mas... Mas... — disse Tatá.
— Eu não confio nem um pouco em você, e você fede igual COCÔ! — gritou Seu Leitão.
Ele mandou Tatá embora com seu balde cheio de cocos, voltou pra dentro de casa e descobriu que suas batatas tinham virado um purê.
Antes mesmo que ele pudesse fechar a porta, o esquilo maluco estava lá, dançando feito um lunático e fazendo bolhinhas com o nariz.
— Piiiruliiito da Siiilva! — cantarolou o esquilo e saiu correndo. Seu Leitão ficou tão bravo que começou a dar pulinhos de raiva.
— Vá embora! — ele gritou. — Vá embora e me deixe sozinho, sua bolinha de pelos maluca!
Bem nessa hora, dona Pena veio subindo a estrada. Ela estava coberta da cabeça aos pés com uma calda de maçãs grudenta e gosmenta.
— Seeeu poorquo fediiido! — gritou Dona Pena.
— O que foi que aconteceu com VOCÊ? — perguntou Seu Leitão.
— Meu patinho tentou quóómer uma maçã de lanche e TODAS AS MAÇÃS EXPLODIRAM! Por qüéé eu não posso quóómpartilhar as maçãs quóóm minha família, Seu Leitão?
— Hum... — disse Seu Leitão.
— Seeeu porco imundo! — gritou Dentinho, correndo estrada acima.
— O que foi que aconteceu com VOCÊ? — perguntaram Seu Leitão e Dona Pena.
— Minha avó estava fazendo torta de creme de banana — Dentinho reclamou — mas quando a torta saiu do forno, TODAS AS BANANAS TINHAM DESAPARECIDO! Ela ficou tão brava que JOGOU A TORTA EM MIM! Você deu três pulinhos, NÃO DEU, SEU LEITÃO?! — disse Dentinho.
— Bom... eu... — disse Seu Leitão.
— Seeeeeuuu... pooorcalhããão! — gritou Tatá, correndo estrada acima com um coco no lugar do seu casco.
— O que aconteceu com VOCÊ? — perguntaram Seu Leitão, Dona Pena e Dentinho.
— Eu tenteeei comer um coooco na minha saaala de jantaaar e, de repeeente, o baaalde saiiiu voaaando! Um coooco me acertooou com taaanta fooorça que fui paraaar DEEENTRO DEEELE! Por que ééé que eu só pooosso comeeer na coziiinha, Seu Leitããão?
— Bom... é que... — disse Seu Leitão.
— Ei, você ficou bem engraçado — Dentinho falou para Tatá. — Posso fazer você sair rolando?
Seu Leitão ficou tão chateado que se sentou e começou a chorar.
— Esta caixa mágica só traz problemas! — ele choramingou. — Ela faz maçãs explodirem, bananas desaparecerem, e cocos comerem tartarugas!
— Ela não faz nada disso! — retrucou Dona Pena, — VOCÊ fez todas essas quóóisas! Você devia aprender a QUÓÓMPARTILHAR!
Dona Pena tinha razão! A caixa mágica só fazia o que ela tinha que fazer! Era Seu Leitão quem só trazia problemas!
Seu Leitão decidiu consertar tudo. Decidiu nunca mais usar os baldes mágicos e trocou o antigo aviso chato por um novo, que dizia:
USE À VONTADE!
Depois disso, a vida do Seu Leitão ficou muito melhor.
Vinha gente de todo lado usar sua caixa mágica. Sempre que faziam suas cópias, deixavam alguma coisa pra ele também. Seu Leitão gostava especialmente das verduras.
Depois de um tempo, Seu Leitão se tornou um mestre-cuca de primeira e abriu um restaurante de comida caseira, com mesas de bancadas e máquinas de música e banquinhos feitos com os baldes de ponta-cabeça.
Chamou o restaurante de “Pirulito da Silva”, mas não sabia por quê.
Tudo acabou bem...
Quer dizer... bem, só até o esquilo maluco SE JOGAR NA CAIXA, né?