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O Rio de Janeiro em 1877/I

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Quadro II

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Cena I

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(Depois da sinfonia, Um Espectador, que está nUm camarote dirige-se ao público naturalmente.)


Espectador - Parece-me que, desta vez, temos coisa nova. Antes de vir para aqui, tinha dito a Um dos meus amigos que creio deve estar aí na platéia: Palpita-me que vou ter Uma imitação francesa parecida com a da Madame Angu ou Uma tradução, como a da Mulher do Saltimbanco, mais ou menos apropriadas aos acontecimentos passados: mas julgo que me enganei. Errare hUmanUm est. Ainda que me custe a engolir como genuinamente original, aquela esperteza de começar a peça pelo couplet final. Enfim, nihil sub sole novUm. Uma das coisas que nunca falham nUma revista francesa é o Monsieur du parterre, sujeito que finge ser do público, que fala como por acaso... Bem acredito eu nos tais casos... e que, no fim de contas, não passa de Um ator com mais ou menos espírito. Felizmente nesta peça parece-me que estamos livres dele... do ator se entende... porque o espírito é de crer que o haja por atacado e a varejo, apesar da peça não ser do Varejão. Sem querer, falei demais... Não vão agora os senhores pensar que faço parte da peça! Deus me livre, que meu pai não me educou para cômico. Vamos ver o que sai por detrás daquele pano.

(Sobe o pano. Praça, gafanhotos, vaga-lUmes, Gatunos, Moleques, Policiais)

Cena II

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Gafanhoteos e depois (Ilegível.)


Coro


Cena III

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1º, 2º Gatuno e Zé Povinho


1º Gatuno (Deixando cair Uma carta no chão.) - Lá vai a isca.

2º Gatuno (Agarra a carta na ocasião em que o 1º vai também para lhe pegar, ficando o 2º com ela.) - Largue, que é minha.

1º Gatuno - Não há tal! Esta carta caiu-me da algibeira.

Zé (Que tem visto.) - Caiu, que eu vi.

2º Gatuno - O senhor está combinado com ele!

Zé - Combinado vá ele. Veja se quer exprimentar a peroba. (Ameaça-o.)

2º Gatuno - A carta é minha, e a prova é que tem dentro Uma trancinha.

1º Gatuno - A carta caiu-me da algibeira, e não tem nada dentro.

2º Gatuno - Aposto em como tem Uma trancinha.

Zé - Aposto também eu! Aqui está dinheiro!

1º Gatuno - Também eu aposto. Vamos, feito!

Zé - Quanto val a aposta?

2º Gatuno - Duzentos bicos...

Zé - Case. os meus aqui estão. Vão para a mão deste cavalheiro.

1º Gatuno - Abra a carta.

2º Gatuno (Abrindo a carta e mostrando Uma trancinha.) - Ganhei.

1º Gatuno (Para Zé Povinho.) - Perdemos. (os Gatunos saem.)

Cena IV

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Zé Povinho só; depois Boato, vestido de urbano; Nota de Duzentos Mil Réis que nada fala


Zé (Meio atordoado.) - Perdemos. É singular este plural. Devia ter dito ganhamos, e perdeu! Querem ver que fui embarrilado? Creio que sim. Pelo sim, pelo não, vou queixar-me à Polícia. (Entra o Boato.) Ó camarada. (Boato não responde.) Ó seu guita! (O mesmo.) Vai a dormir. (Chega-se e grita-lhe no ouvido. O urbano desperta, puxa da espada e põe-se a gritar.)

Boato (Com volubilidade.) - O que é isso? O que é que é? O que há? Quem foi o ladrão? Onde é o fogo? Onde está a carroça? Que número tinha o bonde? Quantas facadas deu ele?

Zé - Uma só... mas foi taluda.

Boato - Onde?

Zé - Aqui. (Mostra o bolso.) Duzentos mil réis, Por sinal foi Uma nota...

Boato - Uma nota de duzentos.

(Passa Uma nota perseguida por Um urbano.)

Zé - Olhe, exatamente como aquela!!

Boato - Como aquela?

Zé - Tal e qual.

(A nota faz negaças ao urbano até sair.)

Boato - Mas aquela é Uma nota falsa! Você parece-me passador de moeda falsa. Venha à presença da autoridade. Está preso em flagrante de delito! HUm... amanhã dirão os jornais: “graças ao zelo da Polícia, foi preso Um dos passadores de notas falsas. A Autoridade segue o rasto de vasta conspiração”.

Zé - Qual conspiração nem qual carapuças. Conspirando está você contra o meu sistema nervoso. O que me parece é que você está a dormir!

Boato - Insultos! Oh! que parte!

Zé - Você quer tomar o peso ao cacete.

Boato - Ameaças! Oh! que parte!

Zé (Levantando a bengala.) - E se não se safa..

Boato (Apita.) - Vias de fato! Oh! que parte!

Cena V

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Os mesmos e Política


Política - Pára.

Boato - Manda quem pode.

Política - O que foi isto?

Boato - Tomei este uniforme de urbano, e acabo de prender Um passador de moeda falsa, visto que não podemos agarrar mais nenhUm. Agarramos Um, prendemo-lo, processamo-lo, levamo-lo ao júri, absolvemo-lo, apelamos, processamo-lo de novo, levamo-lo de novo ao tribunal, condenamo-lo, mas damos-lhe tempo para deitar sebo nas canelas. (Baixo.) Mas...esse... coitado... não passou: foi passado

Política - Nesse caso, retira-te...

Boato - Para onde?

Política - Vai vestir-te à paisana e assistir às sessões da Câmara.

Boato - Lá vou... lá vou... (Vendo entrar o Capoeira.) E vou em boa Companhia.

Cena VI

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Os mesmos e Capoeira


Zé (Fugindo para o regulador.)- Ai mau! Ai mau!

Capoeira - Vamos à Câmara?

Boato - Eu vou para lá: vem comigo. (Enlaçam-se.) Trazes a navalha?

Capoeira - Trago. Vamos. É mais perto ir pela estrada do... (Indica à esquerda.)

Boato - ...do que ir pela travessa. (Saem.)

Cena VII

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Zé Povinho e Política


Zé (Rolando o chapéu nas mãos.) - Eu faltaria ao mais sagrado de Todos os deveres se não lhe agradecesse...

Política - Nada tem que me agradecer. Somos conhecidos velhos.

Zé - Vossa Mercê já andou pela Província?

Política - Eu ando em toda a parte.

Zé - Mas nunca tive o gosto de a encontrar!

Política - Olá! Se tiveste! Sou a Política!

Zé - Qual!

Política - Duvidas?

Zé - Que esperança! Pois se sou Uma vítima de tal víbora! Ainda nas últimas eleições, ela me fez gastar bons cobres! E afinal de contas o Sérgio pulou fora como Um catita! Foi repelido à correia! Não o quiseram lá! Fora mais fácil meter Um prado na Câmara, e não meteram, apesar de vir por obra e graça do Espírito Santo. Mas, apesar disso tudo, em se falando de eleições, sou outro Homem; é defeito que me está na massa do sangue. Apesar da Política lá na terra ser velha e feia como o demônio. Você ao menos é toda chique, toda boa, pra não dizer mesmo toda coxa. A coisa por cá parece que rende.

Política - Qual! Vão-se acabando os privilégios. Já estão inventados Todos os melhoramentos.

Zé - Já eu tenho ouvido falar nisso. Isto por cá vai de vento em popa. É Empresa de Esgotos, Carris de Copacabana.

Política - Isso anda meio entruviscado. Botanical que dividir a Copacabana; quer ficar com a copa e deixar a cabana aos outros.

Zé -Quem ocupa a copa esquipa sob a melhor capa! No copus hic labor est.

Política - Faço como Pilatos, que era Homem asseado, e lavava as mãos mesmo quando estavam limpas...

Zé - As mãos da Política não podem estar muito limpas... Oh! Mas vossemecê traz luvas... e que as não trouxesse! Tinha água da Empresa do Anjo Gabriel... É verdade que a tal água pode untar as suas mãozinhas, em vez de limpá-las... Mas posso saber quem é esse sujeito de quem me livrou?

Política - É Um dos meus mais fiéis aliados: é o Boato.

Zé - O Boato?

Política - O “consta-nos”, o “diz-se”, o “ouvi dizer”, o “somos informados com toda a reserva”. Uma espécie de calúnia de BeaUmarchais...

Zé - E você tem conhecimento com sujeito dessa ordem? Que ordem de sujeito! Está sujeito a ser chamado à ordem!

Política - Está bem: deixa-te de trocadilhos e anda daí a ver a cidade do meu afeto.

Zé - Aceito. Mas receio que minha mulher, Opinião, vendo-me com vossemecê, faça Uma cena dos diabos.

Política - Acharei artes para livrarmos dela. É ciUmenta?

Zé - Uma víbora!

Política - E como é que não está contigo?

Zé - Ficamos de nos encontrar em Botafogo; mas, para aproveitar alguns momentos livre dela, ensinei-lhe o bonde de Vila Isabel.

Política - Pois amanhã o meu fiel Boato te livrará dela.

Zé - Mas nada de intrigas.

Política - Sossega; não há ninguém como a Política para guardar as conveniências.

Zé - E se todo em todo me não pode livrar dela?

Política - Quem não pode, trapaceia...

Zé - Pois também a Política?

Política - Vem daí, ingênuo e primitivo caboclo. (Passam ao fundo dois personagens esgrimindo-se com penas de pato. Um deve ser Padre.)

Zé - O que vão fazendo aqueles dois indivíduos?

Política - São dois amigos meus que estão tratando da Questão religiosa.

Zé - Pois ainda isso dura?

Política - E durará. (Vai ao fundo e aperta a mão dos esgrimadores.)

Zé - O que foi vossemecê lá fazer?

Política - Estavam Um pouco cansados; fui lhes dar novas forças. Vamos! (Saem.)

Cena VIII

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Opinião, só


Opinião - Ora, Uma destas só a mim acontece! Ah! que se o encontro dou-lhe Uma sova de o deixar em lençóis de vinho. Larga-se Um Homem e mais a sua mulher lá dessas terras por onde Cristo nunca andou, para vir à corte opor-se ao concurso de abastecimento de carne verde à capital, sai-lhe pela proa Um Berlinch e adeus minhas encomendas! Há de dar bons burros ao dízimo! A sua carne verde faz Febre Amarela! Ao menos há patriotismo nas cores! E o tratante do Zé Povinho mal aqui se apanha, foi Uma vez! É capaz de andar rendendo preitos aberta... mente às francesas, e à ida para casa com este sistema, há de ser bonita... Se o apanho...

Cena IX

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A mesma, o Boato, à paisana


Opinião (Vai sair e encontra-se com Boato.) - Vai cego?

Boato - Irribus! Pisou-me o melhor calo!

Opinião - Para outra vez, veja por onde pisa.

Boato - O que quer? Venho atordoado com o que me contaram.

Opinião - O que foi?

Boato - Dizem que Um pobre Homem, não vi, mas ouvi dizer a pessoa de confiança, tendo-se perdido esta manhã da mulher...

Opinião - O que faz? Valha-me Deus! Mas o marido também se perdeu de mim!

Boato - da senhora?

Opinião - De mim, sim; já lhe disse tintim por tintim.

Boato - Pare lá com o sino! Enfim! E como se chamava ele?

Opinião - Zé Povinho.

Boato - É o mesmo.

Opinião - Mas o que lhe aconteceu? Ah! Conte! Céus! Diga! Estou nUm desespero incrível!

Boato - Pois, minha boa e pobre senhora...

Opinião - Estou viúva?

Boato -Provisoriamente!

Opinião - Explique-se ou o agatanho!

Boato - Seu marido, consta fez as malas e sem amá-la... pôs-se a panos mal a mala. (Sai.)

Cena X

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Opinião e Espectador


Opinião - Mas isto é horrível! Abandonar-me no meio dUma cidade desconhecida em risco de ser cantada... em alguma “ocorrência da rua”. Em verdade, se fora segunda feira: e em prosa, se for a semana. Isto é ignóbil.

Espectador - É muito mais do que a senhora julga!

Opinião - É porque terá outra amante?

Espectador - Tem, e a pior de todas...

Opinião - Diga-me quem é, porque quero esganá-la!

Espectador - Não fazia nada demais, porque ela tem esmagado a muita gente.

Opinião - Quem é ela?

Espectador - A Política;

Opinião - Ai, que mulher sem-vergonha. Hei de desmascará-la.

Espectador - Olhe que veio a propósito atrás dele! O seu Zé Povinho estava sossegado, como a linda Inês!

Opinião - Então ele não partiu?

Espectador - Qual! A senhora foi vítima da Seca... Ai, da Seca. Oh! Perdão! Vítima do logro.

Opinião - É do que vive aquela sujeita, é de lograr todo o mundo!

Espectador - Se a senhora quer, eu acompanho, até encontrar o Homem.

Opinião - Com todo o gosto


Dueto


Lá vou, lá vou, lá vou

sinhá.

pois sim, pois sim, pois sim,

venha cá.

(À parte.) - É bem simpático este moço! Parece-me com a Vale, do Teatro São Luiz. Vou enciUmar o pérfido e assim que lhe deitar as unhas, deito-lhe as ditas e dentes, e ponho-lhe as malas à costas e marcho para Goiás, que é terra de progresso, onde há Um cabriolé ganho com o suor do rosto. (O Espectador desce para o palco.)

Espectador - Pronto.

Opinião - Principiemos a exploração. (Derretida.) Não?

Espectador - Está dito então.

Opinião - Onde vamos?

Espectador - Ver a inauguração do plano inclinado para Santa Teresa!

Opinião - Plano inclinado? Nunca ouvi falar nisso, senão a respeito das nossas finanças.

Espectador - Essas estão em muito bom pé... Agora em boa mão é que não sei... Ouvi falar aí nUma história de dez mil contos, que é Um verdadeiro romance.

Opinião - Mas então o que é o plano?

Espectador - Venha, e depois lho explicarei.

Opinião - Por onde?

Espectador - Metemo-nos no bonde aqui no largo.

Quadro III

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Cena XI

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(Vista do plano inclinado de Santa Teresa. Coro de inauguração de gente do povo.)


Espectador e Opinião


Opinião (Abanando-se.) - Ai tanta gente e o Senhor Zé Povinho nem pintado o vejo. Ai! O que é que vem ali? Nunca vi animal semelhante.

Espectador - Vem aqui por causa de sê-lo.

Cena XII

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Os mesmos e o Correio, montado numa tartaruga


(Correio é cercado e cUmprimentado por Todos os jornais.)

Opinião (À parte.) - Ele anda tão devagar... (Ao Espectador.) Pois o Senhor Diretor é bem ativo e inteligente.

Espectador - Assim é que é o Correio geral! Mais moroso que aquilo só o Telégrafo.

Correio - Agradeço a pontualidade. Vim Um pouco mais tarde, porque tive de fechar a mala para Chapéu d’Uvas. Espero que haveis de ficar contente com a convenção de Berne.

Todos - O quê?

Correio - Quero dizer que haveis de ficar satisfeitos com o plano, e eu, por meu lado, não hei de ficar no primeiro plano.

Espectador - Não falo da carta; refiro-me ao plano.

Correio - Desde que se aperte o freio do novo sistema, já não há perigo que as cartas sejam violadas;

Espectador - Mas a que inviolabilidade se refere?

Correio - À da vida dos que subirem o plano. Já dei ordem para serem carimbados...

Todos - Carimbados?

Correio - Todos os bilhetes. Por estas e outras mereço todo o elogio. Na qualidade de Correio Geral e reconhecendo que Uma carta levava dois dias para chegar da cidade a Santa Teresa, acho excelente a idéia do plano inclinado! O próprio indivíduo pode levar a sua carta, e entregá-la em mão própria em meia hora. (Sente-se o apoio e grande algazarra do povo.)

Todos - É agora. É agora. Vai subir.

Um Moleque - Quer balas, freguês, quer balas?

(Aparece o bonde no plano inclinado. Estão Zé Povinho e a Política.)

Zé - Eu cá estou.

Política - E eu também.

Opinião - (Que está à boca de cena.) - Lá está o pérfido! Acompanhado dUma mulher! Oh! Quero saber quem é!

Cena XIII

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Os mesmos e Boato


Boato (Ao ouvido da Opinião.) - Consta-me... não sei... mas parece-me que é a Política!

Opinião - Mas o que vai ele ali cheirar?

Espectador - Não se admire: a Política cá na terra mete o nariz em toda a parte.

Opinião - Deus queira que não as meta nas algibeiras do velho. Basta que eu o faça.

Espectador- É limpeza geral!

Zé - A Opinião! Minha mulher! Ó Senhora Política, mande subir até onde há cabo. Ao cabo do mundo que seja, senão acabo! Ela dá cabo de mim.

Cena XIV

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O Veículo e o Anjo da Humanidade


Veículo (Entrando desaforado com o tílburi na cabeça.) - Maldita invenção do bonde. Até mesmo esta subida já tem condução à noite. Pois bem guerra de Morte! Comecemos por cortar o cabo! (Vai a dirigir-se para o fundo.)

Anjo (Derrubando-o.) - Para trás! As conquistas do Progresso protege-as Anjo da HUmanidade.

Veículo - Ora esta. Não sei o que tenho. Vinho não é, porque só bebi cachaça.

(Aparece na plataforma do bonde o Anjo, que sobe ao som de gerais aclamações, levando a reboque a tartaruga em que vai montado o Correio.)

Opinião - Lá se vai o Homem pela corda acima.

Boato - E dizem que a coisa vai descarrilar!

Opinião - Então lá leva o diabo o velho. (Cai desmaiada nos braços d’alguém.)

(Mutação.)

Quadro IV

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Cena XV

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(Um botequim, mesas, cadeiras)


Caixeiro, só, à porta


Caixeiro (À parte.) - Estamos hoje em maré de vazante. Não aparece ninguém... Não admira... os fregueses estão metidos aí em algUm teatro a ouvir algUma Conferência... E o mais é que estas coisas de Conferência têm feito Um mal dos diabos ao comércio. Há estabelecimento por aí que está sempre às moscas, outros estão como Nero. Nem mesmo Uma mosca... Todos os fregueses fugiram... foram naturalmente ser oradores de Conferências. Que também não sei por que se não há de chamar de conferentes a esses oradores. Conferente!... Só o título quanto val! (Ouve-se Um trovão.) Santa Bárbara!... Lá está Um a orar... Ah! É Um trovão. Ora, ó Lopes... Felizmente lá vem Um freguês, mais do que Um... é Uma Companhia.

Cena XVI

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O mesmo, Diretores da Comanhia de ConsUmo, depois Taberneiros


1º Diretor - O senhor é dono desta casa?

Caixeiro - Por enquanto não, senhor. Sou apenas Um dos interessados... em que ela ganhe dinheiro.

1º Diretor - Pois nós cooperamos o consUmo, e vínhamos saber quantas ações quer que reservemos.

Caixeiro - Para quê?

1º Diretor - Para comer mais barato do que em qualquer outra parte... tudo puro e sem confeição. (os Taberneiros têm estado a espreitar a porta e entram ameaçadores.)


Coro


Caixeiro - Mas isto é Uma invasão! Estão por acaso suspensas as garantias?... O que é isto, vivemos nUm império ou nUma republiqueta?

1º Taberneiro - Nós, os secos e molhados... fazemos de guerra de Morte a essa Companhia, que jurou a nossa ruína. Nós somos o monopólio do bacalhau, a composição do vinho, a farinha avariada.os paios em salmoura podre, o azeite rançoso e Todos esses gêneros que fazem tapar o nariz à Junta da Higiene, que emagrecem o povo e nos engordam a nós. Eis o que somos.

Caixeiro - Pois eu, como cá cheiro, não me cheira essa contenda, e ponham-se todo na rua. Rua! Senhores do ConsUmo, não me consUmam a paciência.

Todos - Guerra! Guerra!

(Saem em perseguição uns aos outros pela esquerda.)

Cena XVII

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Caixeiro, depois, Zé, Política


Caixeiro - Além de se não ter fregueses, ainda em cima me cai em casa Uma praga destas! Onde estão as autoridades? Já não temos constituição, senão na Praça do Rossio. O país está perdido. (Entra Zé e Política.) A nação vai por Um plano inclinado.

Zé - De lá venho eu agora... e gostei. (Entra.)

Caixeiro - Ó coração despaisado... Pois o senhor gosta da desgraça do país?

Zé - Do país? Quem lhe fala nessas coisas? Eu refiro-me ao plano inclinado de Santa Teresa, e eu mesmos estou inclinado a fazer Um plano daqueles lá na terra; mas puxado a burros.

Caixeiro - A burros?! Queira desculpar.

Zé - Não há de quê. (À Política.) Tomas algUma coisa?

Política - Isso não se pergunta, eu tomo sempre.

Zé - Traga-me lá Uma cajuada com groselha. (Sentam-se à mesa.) Pois gostei da tal caranguejola, é obra acabada... agora o que falta é acabar a obra.

Política - Não se há de demorar... Eu interesso-me pelo melhoramento.

Zé - Tu também interessas-te por tudo... és a salvação do Povo...

Política - O Povo é os meus encantos, a minha tetéia... ou em melhor e moderna tradução, o meu bijou... Olha, lá vem Um dos meus amigos.

Zé - Quem? Aquele Homem de capote que vem com aquela criançada toda?

Política - Esse mesmo. Dirige-se para aqui.

Caixeiro - Estamos arranjados... se nos apanha de jeito, é capaz de nos pedir a camisa.

Cena XVIII

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Os mesmos e o Major


Major - Meus senhores, venho implorar a sua caridade... Qualquer cosa me serve... Umas calças... até Uma casaca me faz conta... mesmo das viradas... se é que há algUmas por aqui...

Zé (Baixo à Política.) - Aquilo parece que é contigo.

Política - Não é, mas faz-me arder..

Major - Querem Uma amostra do pano? Pois aí vai o pano d’amostra. Eu tinha Uma casaca. DUma das abas fiz Um cueiro... vejam. (Mostra Uma criança embrulhada nUma aba da casaca.) Com outra, arranja-se Uma capa como esta. (Vai mostrando o que diz.) O que este tem na cabeça é Uma manga... cujo canhão disparou... quero dizer, desapareceu... a outra manga deu meias calças para este que está a espera d’outra casaca para completar a toalete... e o resto... o casco... desabado... cobre os ombros deste patusco... Vejam pois que as casacas di...abas são casacas Santas... Vamos, meus senhores, qualquer cosa serve.

Zé - Eu só lhe dei Um cheque para o Banco Mauá.

Major - Depois que levou o xeque-mate, é quanto de mau... há.

Zé - Pois se lhe não serve...

(O Caixeiro que tem saído, entra com Uma grande porção de roupa velha com que se vestem os pequenos caricatamente.)

Caixeiro - Aqui tem o que há. Por hoje acabou-se a roupa velha cá em casa.

Zé - É pena, porque o petisco é do gosto.

Política - E olha que não é mau petisco.

Major - Obrigado.

Caixeiro - Quando o senhor sair condecorado, lembre-se de meu padrinho, que é Uma jóia e vende as ditas na Rua Estreita de São Joaquim.

Major - Agora, rapazes, vamos a outra freguesia.

(Dão a volta à roda da cena, ao som da Marcha.)

Cena XIX

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Caixeiro, Zé, Política, depois Boato


Zé - É original este tipo!

Política - As intenções são boas...

Zé - Já não acontece o mesmo a Todos... (Vai sentar-se nUm banco do que cai a perna.) Veja este banco que peça me armou... estava quebrado... não me preveni... convidou-me a sentar, e depois zás... Uma destas faz perder a confiança nos bancos. (Ouve-se rUmor.)

Política - Que rUmor é este?

Caixeiro - É na... o que lá vai.

Política - O que é?

Boato - Querem saber o que é, não se assustem. Todos os rapazes da Instrução Pública que, em vez de conhecerem os sujeitos da oração... ora... são a atacar Todos os sujeitos que passam.

Zé - Mas então estão incursos nos artigos da Lei.

Boato - São artigos indefinidos ainda.

Zé - Mas isso não tem nome... Se hão de estudar a gramática e respeitar a regência...

Boato - Fazem-se prosas e fazem o inverso.

Política - Eu vou sossegá-los.

Boato - Talvez que o seu verbo ativo...

Zé - ... os faça concordar... Mas eu creio que fazes mal em te ires meter com os pequenos... lembra-te do ditado: Quem se...

Política - Qual, de pequenino é que se torce o pepino.

Boato - E ela quer começar a torcê-los de pequenos. Vá, Dona Política... e veja se tem proposições capazes de fazer a concordância geral e pôr o complemento à questão. Não se ponha com interrogações, e ponha ponto na oração. (Política sai. Boato a Zé.) Enquanto apeamos, quer tomar café, para depois irmos gozar de Uma partida de bilhar?

Zé - A dinheiro vai... jogo o bilhar por Uma partida de café.

Boato - Dizem que tem bom preço este ano?

Zé - Isto é lá com os comissários... Vamos a isto.

Cena XX

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Os mesmos, Espectador, Opinião, Tubo e Homem Canhão


Espectador - Lá está ele... então o que lhe disse eu... encontramo-lo ou não.

Zé - A Opinião! Estou asseado.

Boato - Coragem.

Opinião - Ora, até que tenho o gosto de lhe por a vista em cima... então, como se entende isto, senhor?... Que procedimento é esse? Quando o senhor subiu ao monte...

Espectador - Foi quando ela subiu a serra!

Opinião - Vamos é arranjar malas e partir.

Zé - Partir?

Opinião - Pois, por que espera?

Zé - Por quê?... Ah! Sim... Quero que ande à roda! Comprei Um bilhete com duas garantias, par a sorte grande ser mais certa!

Opinião - Com a cabeça à roda anda você desde que se apanhou com essas fúrias de cara caiada e de carro à porta! Ah! não sei o que me contou... (Raivosa.) Estou sedenta...

Boato (Muito breve.) - Rapaz, já Um copo d’águia.

Caixeiro - Acabou-se;

Todos - Acabou-se?!

Caixeiro - O Fiscal fechou a torneira pela manhã.

Espectador - Deve haver outras...

Caixeiro - Há, mas são verdes... ou digo, são para os outros.

Todos - Água, água!

Tubo - Pronto. (Mete Um Tubo pelo chão abaixo e sai Um repuxo.)

Todos - Nada, nada.

Tubo - Isto é simples.

Boato - Dizem que não pega... porque é bom!

Tubo - Há de sair...

Boato - Olhe, canta-lhe...Quero dizer, toque-lhe a bomba...

Todos (dando à bomba.) - Ajudemos Todos, (dando Todos à bomba.)

Espectador - Se eu tivesse Um talismã, captava como o Vale , na Pêra de Satanás.

Boato - Eu também.

Espectador - Vá de valetas.

Boato - De valetas. está dito.


Cantam


Talismã poderoso, que opera

com o teu alto poder, maravilhas

a nós Todos, que a sede devora

Um pinga vem dar, seja embora

do Cartaxo, do Porto, ou das |ilhas.

(Jorra água por Um lado e vinho do outro.)

Boato - Viva o nosso chafa...

Tubo - ... ris? do progresso?...

Boato - Vivam os Tubos.

Todos - Vivam.

Opinião - Vamos, Juquinha... Agora estou saciada, vamos para a tua terra. (Ouve-se Um grande tiro.) O que é isto? (Passa ao fundo o Homem-canhão.)

Espectador - É o Homem-canhão.

Boato - Homem-canhão... mulheres tenho visto.

Espectador - Um Homem que dispara... e põe logo a andar Uma bala de calibre três mil, oitocentos e cinco...

Zé - Que pena não haver Um batalhão destes no Paraguai.

Boato - Para quê? Para se acabar a guerra nUm dia?

Opinião- E para nos livrar dos impostos para ela, que ainda estamos pagando. (Música fora.)

Todos - O que é isto?

Boato - Isto deve ser... ruim... parece-me que é algUma manifestação qualquer... porquê...

Espectador - Desembuche...

Boato - Lá vai... conta-se... dizem que houve Uma combinação entre o Diretor do Corpo de Bombeiros... eu não vi... mas afirma-se.

Cena XXI

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Anjo, Zé e Espectador


Anjo - (Aparecendo ao fundo.) - Afirma-se que houve Um tempo em que os incêndios alteravam e destruíam com Uma voracidade assombrosa a propriedade e os bens.

Zé - Bem me lembro. No tempo em que eram circunscritos.

Espectador - Um incêndio deixa sempre o juízo a arder.

Anjo - E que esse tempo, graças à energia, zelo, boa vontade e coragem dUm intrépido e benemérito militar, desapareceu... e que, por esse motivo, as Companhias de Seguro lhe vão oferecer Uma casa para ele habitar... Não é muito que se dê Um lar a quem tantos salvou! (Ouvem-se foguetes e música.)

Zé - Viva o heróis dos fogos!

Todos - Viva! (Saem.)

Mutação

Quadro V

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Cena XXII

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(Vista da praça, a mesma cena do Quadro II. Vendilhões, pretas, rapazes com Gazetas. Ao fundo, Um grupo de gente dá atenção ao Preto, que canta alguns trechos de Maria Angú.)


Canção

Cena XXIII

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Os mesmos e Opinião


Zé (Entra da esquerda.) - Para fugir à Opinião tive que também que fugir da Política!...Parece sina... Estou em maré de perder de vista as mulheres... Ora, a minha Opinião, isto é coisa que ora está para o Norte, ora para o Sul... Mas a Política? Segundo me informaram, essa senhora quando se pespega no cachaço de qualquer, não é com duas razões que o deixa.

Opinião (Entrando pelo lado. À parte.) - Onde estará encafuado aquele maldito Boato? Se o desalmado corre, que ninguém o pode apanhar... (Vendo Zé.) Ola Seu Zé Povinho, apanhei-o.

Zé - Credo, ela!

Opinião - Com esta não contavas tu, confessa!

Zé - Confesso que estou satisfeito.

Opinião - Vamos, passa adiante!

Zé - Onde diabos queres tu que eu vá?

Opinião - Vamos embarcar.

Zé - Ora esta! Ainda não tomei o gostinho... Nem vi os teatros.

Opinião - As varietées, não?! Ora, passa adiante de mim.

Zé (À parte.) - Se fosse a Política que governasse o Zé Povinho, ainda eu iria, mas da Opinião não me importa. Eu hei de me ver livre dela.

Opinião (Que tem subido a falar com alguém e desce agora.) - Vamos (Saem.)

Cena XXIV

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A Companhia de ConsUmo do Pão perseguida pelos Professores Públicos, Boato e Anúncio


Professor - Dê cá o pão! Dê cá o pão!

1º da Companhia - Largue o pão! Largue o pão!

Boato - O que é isto? O que é isto?

1º da Companhia - Senhores, nós somos a Companhia do ConsUmo do Pão.

Boato - Ah!!

1º da Companhia - Andamos à cata de acionistas!

Boato - Fazem mal, fiquem descansados em casa, que eles lá irão ter.

1º da Companhia - Precisamos de acionistas como de pão para a boca.

Boato - Isso é o que não aprece.os senhores tem aí para Um exército.

1º da Companhia - Isto é Uma amostra do nosso pão.

Professor - Senhor, nós é os pobre Professor público.

Boato - Nós é... sim, senhor. Está se vendo... está se vendo...

Professor - Nossos vencimento foi reduzido! Nós está com fome. Queremos este pão.

Todos - Queremos este pão!

1º da Companhia- Mas isto é Uma violência. (Frases desencontradas de parte a parte e saem altercando para a direita.)

Boato (Só.) - Dizem que Jesus Cristo, com cinco pães, deu de comer a cinco mil pessoas. Se fossem Todos da Companhia do ConsUmo, não era milagre nenhUm. Aí vem o Anúncio: fujamos deste amolador.

Anúncio (Sombrio.) - Qual é a melhor cerveja nacional? A Cristiana! Dê-se Um prêmio a quem provar o contrário. (Passeia e pára de novo.) O melhor favor que se pode fazer a Uma senhora é indicar-lhe a casa especial de fazendas pretas. (O mesmo jogo.) O rend l’argent a quem comprar por menos. Aux 100.000 Palitots. (Sai majestosamente.)

Cena XXV

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[Zé Povinho (Só.)]


Zé - Então livrei-me dela ou não? A Opinião nunca está com o Zé Povinho, que é o mesmo que dizer que o Zé Povinho não tem Opinião. O que é aquilo? Que povaréu é aquele?

Cena XXVI

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O mesmo, Dondon, Operários da Alfândega


Os Recém-chegados - É Um desaforo! É Uma pouca vergonha!

Zé - Vossas Excelências queiram desculpar, mas o que foi que aconteceu?

Dondon - Eu lhe conto, cidadão... Antes que tudo, qual é a sua cor Política?

Zé - O azul.

Dondon - Como o azul? Zomba, cidadão? Olhe que lhe desanco com a musa do povo!

Zé - Perdão, o que foi que perguntou?

Dondon - Perguntei-lhe qual era sua cor Política.

Zé - Pois então desculpe, julguei que me perguntasse qual era minha cor predileta.

Dondon - Política. A que corpo pertence.

Zé - Eu não tenho cor po...lítica.

Dondon - Saiba que aquele senhor, ou por outra, aquele charuto que ali passa ao fundo fez Umas tantas exigências vexatórias e inconseqüentes a esta pobre gente! Fizeram greve...

Zé - Uma greve é grave...

Dondon - Vieram ter comigo, o Tribuno do Povo, o Mimoso das Multidões, o Hirsuto, o Encapotado, e pedirem-me que advogasse a sua causa. Fui a quem de direito... E o que julga o senhor que me respondesse quem de direito?

Zé - Mandou-o pentear monos... ou pentear-se a si mesmo, que bem precisa disso.

Dondon - Nada, cidadão! Disse-me - Por que se meteu nisso:

os OPERÁRIos - É Um desaforo, é Uma pouca vergonha.

Dondon - Hei de me vingar nUm seu colega a quem não cansarei de repetir com toda a força dos meus cabelos: - Larga a pasta. (Aos outros.) Amigos, segui-me e gritemos Todos.

Coro

Cena XXVII

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Política e Zé Povinho


Política (Ouvindo ainda o coro.) - Imbecis, ora querem, ora não querem! (Vendo Zé.) Enfim te encontro.

Zé - Onde andaste?

Política - Então julgas que sou algUma vadia? Estás muito enganado! A Política não tem descanso. Ainda agora andei atrapalhada, apaziguando Uma divergência que se estabeleceu entre Um sujeito e Um marceneiro...

Zé - Por quê?

Política - Porque queria a viva força apoderar-se dUma cadeira que estava em sua casa para cobrir de palhinha... e afinal apoderou-se.

Zé - E quem é esse pândego?

Política - Um sujeito velho...

Zé - Desembuche! Quem é esse sujeito velho?

Política - Não posso dizê-lo para evitar censura. Basta de darmos à taramela. Vamos.

Zé - Aonde?

Política - Vamos aí à toa, não nos faltará o que ver. (Saem.)

Cena XXVIII

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Espectador e Boato


Espectador - Nada, não me faça entrar na... para cá... olhe que não sou da peça.

Boato - Não faz mal.

Espectador - O empresário pode escamar-se... e com razão, que diabo. Um Homem que sai do camarote e entra no palco. E o demônio do contra-regra onde tem a cabeça?...

Boato - Venha cá... venha cá...

Espectador - De mais a mais, ó Seu Boato, olhe que isto é maçada... o espetáculo pode acabar depois da meia noite... e depois não há bonde.

Boato - Lá vai Um vapor. (Passa Um vapor.)

Espectador - Agora pergunto-lhe eu: se estando sem vapor fazem tantas vítimas, a vapor com vapor quantas farão? É Uma regra de três.

Boato - Quais são os três?

Espectador - Ora esta! sempre é muito tolo!... Uma regra de três é... é... Eu lhe explico... É Uma regra sem exceção. Você sabe que não há regra sem exceção.

Boato - Quanto ao número de vítimas não se amedronte. Agora há Uma salva-vidas.

Espectador - Mas já está posto em prática?

Boato - Posto em pratos? Em pratos limpos.

Espectador - Em prática!

Boato - Por ora, está apenas posto em teoria.

Espectador - Por força. Nesta terra é sempre assim. Se se tratasse dUm salva-Mortes, já a coisa andava na berra. mas diga-me cá: Você trata ou não de procurar a Dona Opinião?

Boato - Havemos de encontrá-la nas festas do carnaval. (vendo cair Uma pasta, das bambolinas.) Ai!

Espectador - Ai!

Boato - Caiu Uma pasta.

Espectador - Coitada! Donde cairia ela?

Boato - Do poder.

Espectador - Então o poder é lá em cima?

Boato - É sim, senhor: dali é que nasce a corrupção dos povos.

Espectador - É de cima. Sei.

Cena XXIX

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Espectador e Política


Política - Ah! Cá está a pobre pasta... Que queda!

Espectador - Mas quem a atirou lá de cima?

Política (Misteriosa.) Psiu! Vamos assistir ao carnaval?

(Mutação.)

Quadro VI

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Sobe o pano do fundo e vêem-se diferentes grupos carnavalescos com as bandeiras das várias sociedades. Tocando a orquestra em surdina Um cancã.


Todos (Gritando.) - Viva a folia!

Febre Amarela (da esquerda.) - Bem, a ocasião é propícia para a ceifa. A Febre Amarela vai tirar o ventre da miséria.

Anjo da HUmANIdaDE (Do outro lado.) - Ainda não há de ser desta vez, peste maldita. Para trás!

(Ficam à boca de cena os personagens últimos e termina o ato com a música do Zé Pereira, e grande algazarra e confusão.)


Fim do primeiro ato.


[(Cai o pano.)]