O Saci (8ª edição)/1
I
Em ferias
QUANDO naquela tarde Pedrinho voltou da escola e disse a dona Tonica que as ferias iam começar dali uma semana, a boa senhora perguntou:
— E onde quer passar as ferias deste ano, Pedrinho? O menino botou as mãos na cintura, rindo-se de tamanha ingenuidade.
— Que pergunta, mamãe! Nem parece duma senhora inteligente. Pois onde mais, senão no sitio de vóvó?
Pedrinho não podia compreender ferias passadas em outro lugar que não fosse o Sitio do Picapau Amarelo, em companhia de sua prima Narizinho, do marquês de Rabicó, do excelentissimo senhor visconde de Sabugosa e da boneca Emilia. E tinha de ser assim mesmo, porque dona Benta era a melhor das vóvós; Narizinho, a mais galante das primas; Emilia, a mais maluquinha e asneirenta de todas as bonecas; o marquês de Rabicó, o mais rabicó de todos os marqueses e o visconde de Sabugosa, o mais “comodo” de todos os viscondes. E havia ainda a famosa tia Nastacia, a melhor quituteira deste e de todos os mundos que existem. Quem comia uma vez os seus bolinhos de polvilho, não podia nem sequer sentir o cheiro de bolos feitos por outras cozinheiras.
Pedrinho tinha recebido uma carta de sua prima, dizendo: “Nosso grupo vai este ano completar seculo e meio de idade e é preciso que você não deixe de vir pelas ferias para comemorarmos o grande acontecimento”.
Esse seculo e meio de idade era contado assim: dona Benta, 64 anos; tia Nastacia, 66; Narizinho, 8; Pedrinho, 9; Emilia, o marquês e o visconde, 1 cada um. Ora, 64 mais 66 mais 8 mais 9 mais 1 mais 1 mais 1, fazem 150 anos, ou seja um seculo e meio.
Logo que recebeu essa carta, Pedrinho fez a conta com um lapis para ver se pilhava a prima em erro; mas não pilhou.
— E´ uma danada, aquela Narizinho! disse ele. Não ha meio de errar em contas.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.

