O Saci (8ª edição)/16
XVI
O Cauré
O Cauré, explicou o saci, é um gaviãozinho escuro com manchas brancas nas asas, cabeça grande, olhos vivos como azougue. Para os indios simboliza a fortuna e a felicidade. Como é muito agil e ativo, consegue num instante tudo quanto quer. No tempo de fazer ninho o Cauré risca o espaço com meia duzia de vôos e já o ninho aparece pronto. Por causa disso os indios têm em grande estima uma palhinha qualquer tirada dos ninhos dessa ave. Conservam-na como amuleto. Nos mercados do Pará e do Amazonas ha sempre á venda tais amuletos, de grande procura entre o povo.
Quando solta o seu grito do alto de uma arvore, o Cauré espalha grande terror entre as outras aves. Todas estremecem e ficam imoveis, sem forças para fugir. Ele faz como a cobra: magnetiza as coitadinhas. Outros dizem que quando o Cauré dá o seu grito, os passaros que estão proximos sentem-se arrastados e dirigem-se para o lado dele, tontos e cégos. O Cauré permanece imovel, como se fosse de aço. Todos se chegam, cada vez com mais terror, e entregam-se ao seu bico afiado. O Cauré mata os que quer, deixando-os cair no chão. Depois desce da arvore e vem comer a cabeça e o coração das vitimas.
Esse poder de imã que exerce sobre as outras aves foi que tornou o tal gaviãozinho uma criatura de grande importancia para os indios. Todos fazem grande empenho de possuir uma pena dele, ou um pedaço do seu ninho, certos de que essa pena ou esse pedaço de ninho tambem atrairá para o possuidor tudo quanto este desejar.
— E o Uirapurú? perguntou Pedrinho. Vovó já me falou desse tal Uirapurú, lá do Norte.
— E´ outro passarinho que muito impressiona a imaginação dos indios.
— Dizem que é lindo.
— Lindo, não; mas sabe ser mais que lindo. Sabe ser encantador.
— Explique-me isso.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.