O Uraguay/Ao Author

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Ao Author

SONETO

 

PArece-me que vejo a groſſa enchente,
  E a villa errante, que nas aguas boya:
  Deteſto os crimes da infernal tramoya:
  Choro a Cacambo, e a Cepé valente.

Não he preſſagio vão: lerá gente
  A guerra do Uraguay, como a de Troya;
  E o lagrimoſo caſo de Lindoya
  Fará ſentir o peito, que não ſente.

Ao longe, a Inveja hum paiz ermo, e bronco
  Infecte com ſeu halito perverſo,
  Que a ti ſó chega o mal distincto ronco.

Ah! conſente que o meu junto ao teu verſo,
  Qual fraca vide, q̃ ſe arrima a hum tronco,
  Tambem vá diſcorrer pelo Univerſo.


SONETO

 

ENtro pelo Uraguay: vejo a cultura
  Das novas terras por engenho claro;
  Mas chego ao Templo mageſtoſo, e paro
  Embebido nos raſgos da pintura.

Vejo erguer-ſe a Republica perjura
  Sobre alicerces de hum dominio avaro:
  Vejo diſtinctamente, ſe reparo,
  De Caco uſurpador a cova eſcura.

Famoſo Alcides, ao teu braço forte
  Torca vingar os ſceptrosm e is altares:
  Arranca a eſpada, deſcarrega o corte.

E tu, Termindo, leva pelos ares
  A grande acção; já que te coube em ſorte
  A glorioſa parte de a cantares.


Do Ignacio Joſé de Alvarenga Peixoto, graduado na faculdade de Leis pela Univerſidade de Coimbra.