Oitavas canto agora por preceito
1Oitavas canto agora por preceito,
Sem que na oitava possa diligente
Louvar as excelências de um sujeito,
Que pode ser em tudo o melhor Lente:
Mas como em mim não pode ser perfeito
O canto, ficará menos cadente
A música de Apolo, e de Talia,
Que não há cantar bem sem melodia.
2Se do tempo perfeito o meu compasso
A compasso cantara neste canto,
Não faltara à garganta agora o passo,
E em passos de garganta fora espanto:
Porém se em canto nunca da mão passo
Como posso afinar no canto tanto,
Que me atreva a cantar vossa ciência,
Sem que falte ao compasso na cadência.
3Canora a voz tomara, e tão suave,
Que em passos largos, e ecos repetidos
Sonora requintasse aquela clave,
Em que fossem meus ecos esparcidos:
Porém se o vosso nome o canto grave
Eleva suspendendo os mais sentidos,
Com a voz, que formar o meu alento
Chegar posso tarnbém ao Firmamento.
4Discutindo esse globo de ciências
No mapa desta esfera Americana,
Acho um todo formado de excelências
Maravilha fatal em forma humana:
De modo se une, e formam as essências
Que o natural as graças vos germana:
Mas que muito se vós no largo mundo
Sois da graça, e ciências tão fecundo.
5Se emulações tiraram Luzimentos,
Que soube a natureza vincular-vos,
Apolo não perdera os pensamentos,
Temendo-se na empresa de louvar-vos:
Suspende a admiração os vãos intentos
Ao discurso, que emprende realçar-vos,
Que a Musa enfraquecida, a pena leve
Nunca diz, o que sente, no que escreve.
6Deixem-se os Gregos já do seu Eliano,
Condenam a silêncio um Xenofonte,
Não louve Alexandria Herodiano,
Que na Bahia tem Timocreonte:
O qual pode ensinar Quintiliano,
Camões, Terêncio, Ênio, Anacreonte,
Platões, Anaximandros, e Musés,
Acusilaus, Priscianos, e a Timéus.
7Nos anos climatéricos glorioso
Vosso nome será tão dilatado,
Que suba, onde o decrépito invejoso
O veja nas estrelas colocado:
Sereis novo Planeta luminoso,
E Sol em nova esfera sublimado,
Que, a quem o mundo singular aclama,
Só descansa no céu com ele a fama.
8Separar vossas partes, e Louvores
Absurdo fora certo, e averiguado,
Que à grandeza dos orbes superiores
Ninguém pode pôr termo limitado:
Receba o infinito por maiores,
Quem foi por singular ao mundo dado,
Com que as partes publica deste modo,
Quem de todo admirado admira o todo.
9Cesse pois em louvar-vos minha pena,
Que impossível será, que sem engano
Presuma, que fazendo esta novena
Vos possa ponderar em todo um ano:
Este novo, e felice, que hoje ordena
O Céu, lograi, Senhor, sem tanto dano,
Porque sejam em vós os mais gloriosos
Aqueles, que vos faltam de invejosos.