Os Vilhancicos/II
Para se avaliar da intensidade a que entre nós chegou o gôsto da pequena interessante composição bastará referir que no Index da Livraria de Musica de D. João IV, publicado em Lisboa por Paulo Craesbeck em 1649 figuram para cima de dois mil Vilhancicos! ([1])
Nos Musicos Portugueses do ilustre Prof. Sr. Joaquim de Vasconcelos citam-se, entre outros, os nomes de Fr. Denis dos Anjos, Francisco Corrêa de Araújo, Fr. António de Belém, Fr. Estevão Botelho, Estevão de Brito, Fr. Manuel Cardoso, Nunes da Conceição, Pedro da Conceição, Fr. André da Costa, Sebastião da Costa, Fr. Felipe da Cruz, António de Oliveira, Pedro Sanches de Paredes, Domingos Nunes Pereira, António de Pina, Manuel de Pina, Fr. Manuel Pousão, João Lourenço ou João Soares Rebelo, Pedro Vaz Rêgo, Fr. António do Rosário, Francisco da Costa e Silva e ainda alguns mais que, por me parecerem mais notáveis, vou destacar e sam:
CASTRO — Manuel António Lobato de —, autor de Vilhancicos que se cantaram na Sé Catedral do Pôrto em as Matinas e Festas da Gloriosa Virgem e Martir S. Cecília. Coimbra, na Off. do R. Colegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712, in-12.
ELIAS — Fr. Antão ou António de Santo —: era Carmelita, tendo passado a maior parte da sua vida no Brasil. Faleceu em 1748 deixando: Vilhancicos do Natal, Reis, Santa Cecília e S. Vicente, a 2 córos com instrumentos.
FARIA — Luís da Costa e —, natural da Guarda, onde nasceu a 14 de outubro de 1679. Registam-se dêle: Villancicos que se cantaran con varios instrumientos el dia 22 de Enero de 1719 en los Maytines del glorioso y invicto Martyr S. Vicente, patron de ambas Lisboas en la Metropolitana Cathedral del Oriente, Lisboa, en la Imprenta de la Musica, 1819, in-8.º Formavam oito Vilhancicos de vários metros. — Villancicos que se cantaran el dia 22 de Enero de 1721, Lisboa, mesma data. Villancicos cantados el dia 22 de Enero de 1722, Lisboa; — Villancicos cantados el dia 22 de Enero de 1723, na mesma Igreja e pelo mesmo motivo.
FROVO — João Alvares — de Lisboa, sobrinho do famoso e de tam discutida probidade Gaspar Alvares de Lousada, foi Capelão e Bibliotecário de D. João IV e faleceu em 1682. Há dêle — Vilhancicos de diversas festividades, a 4, 6 e 8 vozes.
GLÓRIA — Fr. Gabriel da —, da Ordem de S. Bernardo, cujo instituto professou em 1663. Temos dêle — Vilhancicos para as festas de Christo, Nossa Senhora e Santos, que se celebram no Real Mosteiro de Alcobaça.
JERÓNIMO (S.) — Fr. Francisco de —, Mestre da Capela do Mosteiro de Belém e natural de Evora. Professou a 25 de novembro de 1728 e escreveu: Motetes e Vilhancicos para diversas ocasiões.
JESUS — Fr. António de —, Trinitário, professor de música na Universidade até á sua morte em 1682. Há dêle — Vilhancico á Natividade de Nossa Senhora. A letra era de D. Francisco Manuel de Melo (Obras Métricas, Avena de Terpsicore, t. 26, pg. 70).
MAGALHÃES — Felipe de — dos fins do século XVI, foi Mestre da Capela da Misericórdia de Lisboa e depois da Capela Real. Conhecem-se dêle — Vilhancicos da Natividade, a 7 vozes.
MELGAÇO ou MELGAZ — Diogo Dias —, alentejano, de Cuba, foi Mestre da Capela da Catedral de Evora; faleceu nesta cidade em 1700. Deixou — Vilhancicos para as Festas de Christo, Nossa Senhora e varios Santos.
PINHO — Manuel de — músico da Capela Real: Villancicos y Romances a la Natividad del Niño Jesus, Nuestra Senora y varios Santos, 1.ª p., Lisboa, por Pedro Craesbeck, 1615, 8.º; — Villancicos y Romances, 2.ª p., ibid., 1618.
ROCHA — Fr. Francisco da — Monge da Ordem da SS. Trindade, foi um talento prematuro, pois se afirma que aos onze anos já compunha notàvelmente. Morreu em 1720, tendo deixado — Diversos Vilhancicos, a 4, 6 e 8 vozes.
SANTIAGO — Fr. Francisco de — Carmelita Descalço, Mestre das Catedrais espanholas de Plasencia e Sevilha, foi muito aceite a D. João IV. Faleceu em 1646. Restam — Diversos Motetes e Vilhancicos do Natal, Sacramento, Nossa Senhora e Santos.
SANTOS — Fr. Manuel dos —, de Lisboa, professo no Instituto de S. Paulo, falecido em 1737 — Vilhancicos da Conceição, Natal e Reis, a 8 vozes.
SILVESTRE — Gregório —, de Lisboa, onde nasceu em 1520, retirando-se muito novo para Espanha, onde viveu e veiu a falecer em 1570. É autor de vários Vilhancicos, que lhe crearam grande reputação de compositor.
Seriam êstes músicos também poetas ou, se se prefere, versejadores? Além da parte musical dever-se-lhes há atribuïr igualmente a parte literária, melhor ou peior, enfim, consoante os méritos de cada qual? Para alguns o facto é fóra de dúvida. No Catálogo do rei D. João IV, atrás citado, lá aparecem os nomes de Fr. Francisco de Santiago e de Estevam de Brito; que vemos figurar por outro lado na Biblioteca de Barbosa Machado. Bastas vezes a letra não seria senão um mero pretexto para a composição artística, de simples solfejo, de instrumental ou canto. Era nesta que se pretendia revelar a posse da arte do órgam e do canto dando satisfação ao gôsto das multidões, que encontravam pábulo suficiente nas Ordens Religiosas, onde se fundou e desenvolveu a paixão pela música, muito antes de D. João V mandar vir da Itália numerosos cantores profissionais.
Claramente, as duas musas não eram incompatíveis e quando a História bibliográfica indica os nomes dos que neste campo renderam culto à poesia difícil é dizer se estes deixaram a outros a tarefa de criarem a música respectiva. Socorrendo-nos do trabalho do ilustre Abade de Sever podemos apontar:
ANJOS — Fr. Dionísio dos — da Ordem de S. Jerónimo, cujo Instituto professou a 6 de Janeiro de 1656, vindo a falecer a 16 do mesmo mês de 1709. Exímio tocador de arpa e de viola. Foi compositor de Vilhancicos que se conservavam com outras músicas no seu Convento de Belém.
BRITO — Estevam de — professor de música, mestre e Beneficiado na Catedral de Badajoz e de Malaga. Adquiriu fama em toda a Espanha pelo seu saber musical. Além de motetes escreveu: — Villancicos de Navidad.
CARDOSO — Fr. Manuel —, de Fronteira, no Alentejo, foi Mestre da Capela Real, benquisto de Felipe IV e depois de D. João IV, que lhe deu várias demonstrações de aprêço. Morreu a 24 de novembro de 1650 tendo deixado, entre muitos trabalhos: — Dous Vilhancicos do Natal, o 1.º a 3 vozes e o 2.º a 6.
CARNEIRO — Fr. Manuel — Carmelita, tendo professado a 20 de maio de 1645; foi insigne organista e deixou: — Salmos, motetes e Vilhancicos a diversas vozes.
CONCEIÇÃO — Fr. Felipe da —, de Lisboa, mas viveu em Castela, onde professou no Instituto de Nossa Senhora das Mercês. Na Real Biblioteca de Música existiam dêle — Vilhancicos do Sacramento e do Natal.
CONCEIÇÃO — Fr. Pedro da — da Ordem da SS. Trindade, em que professou a 15 de outubro de 1706. Faleceu aos 21 anos tendo deixado provas da precocidade do seu talento na Música a 4 córos para uma Comédia representada no Paço em aplauso da Rainha D. Mariana de Austria e, o que aqui nos importa, em — Vilhancicos a 8, 4 e 3 vozes para o Convento de Odivelas.
CORREA — Henrique Carlos —, de Lisboa, onde nasceu a 10 de fevereiro de 1680. A sua perícia musical levou o Bispo de Coimbra D. Antonio de Sousa e Vasconcelos a chamá-lo para Mestre da sua Catedral, donde passou para Lisboa. É numerosa a bibliografia artística, que dêle cita Barbosa. Para nós basta-nos registar — Vilhancicos do Natal, festa dos Reis, Conceição, Sacramento, e outras festividades a 8. 6., 4., duo e solo.
COSTA — Fr. André da — de Lisboa, religioso da Ordem da SS. Trindade, em que entrou a 3 de agosto de 1650. Foi notável compositor e insigne arpista, sendo músico da Capela Real em tempo de D. Afonso VI e D. Pedro II. Faleceu a 6 de julho de 1685. Das suas composições, que ficaram inéditas, faziam parte — Vilhancicos da Conceição, Natal e Reis, a 4. 6. 8. e 12. vozes.
CRISTO — Fr. Luís de —, Carmelita calçado, cujo hábito vestiu a 18 de maio de 1641. Escreveu — Lições de Defuntos, motetes e Vilhancicos.
JERÓNIMO (S.) Fr. Francisco de — de Evora, do hábito de S. Jerónimo, ordem em que professou no Real Mosteiro de Belém a 25 de novembro de 1728. Aí foi mestre da Capela e para várias solenidades compôs — Motes e Vilhancicos, atrás também citado.
LESBIO — António Marques — Mestre da Capela Real eleito em 1698, favorecido com estimação especial por parte de D. Pedro II, D. Maria Sofia Isabel de Neoburgo e D. Catarina, raínha de Inglaterra. Faleceu em 1709. Foi membro da Academia dos Singulares em cujos dois tomos há obras suas em prosa e verso. Além dessas e doutras composições, que aqui nos não interessam, imprimiu — Velhancicos que se cantarão na Igreja de Nossa Senhora da Nazareth das Religiosas Descalças de S. Bernardo em as Matinas e festa do glorioso S. Gonçalo. Lisboa, por Miguel Manescal, impressor do S. Ofício, 1708. Verso e música é tudo seu. Sam oito composições. Ficaram inéditos muitos outros Vilhancicos da Conceição, Natal, Reis, Sacramento e vários Santos a duo, 3. 4. 6. 8. 11. e 12. vozes, que se conservavam na Biblioteca Real de Música.
O cunhado do autor Manuel de Sousa Pereira, que foi Bibliotecário dessa Biblioteca, chegou a ter coleccionadas em volume as produções musicais dêste insigne Compositor, segundo afirma Barbosa Machado, que as viu.
LUÍS — Francisco — mestre da Catedral de Lisboa. Faleceu a 27 de Setembro de 1693. Escreveu, mas ficaram manuscritos, Vilhancicos a diversas vozes.
MACHADO — Manuel — figura no Catálogo de Craesbeck de 1645, além de outras composições musicais, com vários Vilhancicos.
MORAIS — João da Silva — notável professor de música na Capital, que vinculou o seu nome a numerosas composições, das quais mencionamos — seis Vilhancicos do Natal a 4. e 5. vozes e de outras festividades que, no dizer de Barbosa Machado, excediam o número de cincoenta.
PAREDES — Pedro Sanches de — notável Organista e não menos notável Compositor, como o demonstrou nos — Vilhancicos para a noute do Natal, que deixou à Igreja de Óbidos, de que era Beneficiado e que se perderam como tantos outros.
PEREIRA — Domingos Nunes — professor de música na Casa da Misericórdia de Lisboa, donde passou para a Catedral. Faleceu em 1729. Entre outras, deixou — Vários motetes e Vilhancicos, a 4. 6. e 8 vozes.
POUSÃOS — Fr. Manuel — alentejano, da vila do Landroal, eremita Augustiniano, tendo professado no Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa a 16 de Maio de 1617. Faleceu em 1683 tendo deixado vários Vilhancicos, que faziam parte da Real Biblioteca de Música de Lisboa.
REBELO — João Soares ou João Lourenço — de Caminha, mestre da Real Capela e Professor do Duque de Bragança, depois D. João IV, que o tinha em tam elevada estima que lhe dedicou a Defensa da musica moderna contra la errada opinion del obispo Cyrillo Franco, que saiu em Lisboa em 1649. Faleceu en 1661. Entre várias composições deixou — Vilhancicos a 4. 6. 8. e 12 vozes da Conceição, Natal e Reis.
REGO — Pedro Vaz — alentejano, de Campo Maior, foi mestre da Capela em Evora, onde faleceu em 1736. Deixou — Vilhancicos do Natal, Conceição, Epifania e a vários Santos, em que era sua tanto a música, como a poesia.
REIS — Gaspar dos — foi mestre de música na igreja paroquial de S. Julião de Lisboa, donde passou para a de Braga. Compôs — Missas, Salmos, Motetes e Vilhancicos a diversas vozes.
ROCHA — Fr. Francisco da — professo da Ordem da SS. Trindade, a quem já nos referimos atrás, que Barbosa cita com numerosa bibliografia, interessando-nos aqui sòmente como autor de vários Vilhancicos.
ROSÁRIO — Fr. António do —, de Lisboa, onde nasceu a 20 de junho de 1682, da Ordem de S. Jerónimo, em que professou em 1702. Além de mais trabalhos musicais escreveu — Vilhancicos, a 8. e a 4. vozes.
SANTOS — Frei Manuel dos — organista famoso e compositor falecido em 1737. Deixou para se cantarem nas Matinas da Conceição, Natal e Reis — Vários Vilhancicos a 8 vozes, que também apontamos entre os músicos.
SILVA — Francisco da Costa e — mestre de musica na Catedral de Lisboa. Faleceu a 11 de maio de 1727, tendo deixado — Vilhancicos a S. Vicente e a Santa Cecília.
- ↑ Foi reeditado pelo sr. J. de Vasconcelos com aquele primor que sempre pôs em todas as suas publicações, em 1874, no Porto. Vẽem aí mencionadas obras de Gabriel Dias, fr. Francisco de Santiago, Geri de Chersem, Mateos Romarim, João de Castro y Malagaray, de Estevão de Brito, Carlos Patiño, fr. Geronimo Gonçalves. Indicam-se os solenidades para que fôram escritas as musicas. Como se deixou perder tanta riqueza?