Os heróes brazileiros na campanha do sul em 1865/Introdução
INTRODUCÇÃO
Napoleão para perpetuar a gloria de seu exercito, que foi no espaço de mais de um quarto de seculo a gloria da França, mandou erigir a columna da praça Vandôme.
Victor Hugo, genio não menos assombroso que o do vencedor de Marengo, para transmittir ás éras as tradições da humanidade, consorcia Homero com Herodoto, e escreve as Lendas dos Seculos.
Seguindo o exemplo de tão soberanos vultos, seja-nos dado tambem abalançar a um commettimento, que desde já reputamos muito superior a nossas forças, mas que nem por isso deixa de nos incitar a tenta-lo; tal é a elevação do sentimento que nos inspira a coragem de nossos concidadãos e a gloria do Brazil!
A publicação que hoje promettemos ao publico, com o titulo —Os heroes brazileiros na campanha do sul em 1865, é mais uma galeria, que um livro; comtudo participa de ambos os generos.
Livro quanto à parte biographica, galeria quanto aos retratos desenhados, o nosso trabalho, ainda que mesquinho na execução, tem um fim patriotico: commemorar os feitos do exercito armada nacional;—uma aspiração generosa: erguer um padrão de reconhecimento aos vivos, e uma memoria de saudade aos mortos.
A campanha em que o Brazil subita e inesperadamente se achou empenhado com Montevidéo, e ultimamente com os selvagens do Paraguay, é dos acontecimentos que devem ter no futuro uma profunda significação historica.
Como no berço e na ascendencia de quasi todos os grandes Estados, o Imperio de Santa Cruz ao consolidar a sua nacionalidade vio-se tambem acommettido pela invasão dos barbaros; e esta luta, que symbolisa a reacção do despotismo contra a liberdade, da ignorancia e da força brutal contra o direito e a civilisação, não póde deixar de ser coroada pelo triumpho que a Providencia sempre concede aos que pugnão pela causa da justiça e do progresso.
O que mais admira nesta suprema conjunctura é como de um povo pacifico, commerciante e dado ás artes, se fez de repente (tal foi a potente indignação do brio nacional ultrajado) um exercito de heroes, uma nação de guerreiros!
A’ frente de todos os cidadãos, e por consequencia á frente de todos os soldados, está o Chefe da Nação.
Na hora do maior perigo, abandonando as mais santas affeições de sua alma, e vestindo a farda popular de voluntario da patria, foi acampar nas fronteiras do Imperio, dizendo ao seu exercito que o recebeu delirante de enthusiasmo :
« O meu posto é aqui ! »
O Sr. D. Pedro II, quando não tivesse mostrado em todos os actos de sua existencia, por suas virtudes e sabedoria ser um dos primeiros monarchas do mundo, bastava-lhe este acto de coragem civica e dedicação sublime para o tornar o vulto mais sympathico e grandioso dos primeiros tempos do Imperio !
Prestando-lhe esta homenagem sincera de respeito e justa admiração, será o seu retrato o primeiro que abrilhantará a nossa galeria, seguindo-se-lhe depois os dos Principes, seus Augustos Genros, e finalmente os de todos os Brazileiros que nesta campanha immortal, fosse qual fosse a sua ascendencia ou posição, souberão lutar ou morrer como heroes, sustentando a honra do pavilhão nacional.
Terminaremos repetindo ainda as palavras do grande poeta francez: « Pessoa alguma póde responder por finalisar o que começou; nem um momento de continuação certa se pode assegurar á obra esboçada; solução de continuidade é a missão do homem: porém é licito mesmo ao mais fraco ter uma boa intenção e declara-la.
« Ora, a intenção deste trabalho é boa.»
O mesmo dizemos nós, e de certo o confirmará o publico
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