Prefácio
Se lê muito pouco, dizia Voltaire, e, entre aqueles que querem se instruir, a maior parte lê muito mal. Da mesma forma um epigramista desconhecido, ao menos de mim, dizia, no começo, eu creio, do século XIX:
A sorte dos homens é esta:
Muitos chamados, poucos eleitos;
A sorte dos livros, eis aqui:
Muitos soletrados, poucos lidos.
Saber ler, pode-se sentir, é, portanto, uma arte e há uma arte de ler. É com ela que sonhava Sainte-Beuve (NT* Charles Augustin Sainte-Beuve, um crítico literário) quando dizia: «O crítico não é mais que um homem que sabe ler e que ensina os outros a ler.»
Mas em que esta arte consiste? Eu creio que agora ficamos totalmente complicados.
Já que uma arte se define a partir do objetivo a que ela se propõe, nós temos, sem dúvida, que nos perguntar porque lemos. É para nos instruir? É para julgar as obras? É para ter prazer? Se é para nos instruir, nós devemos ler muito lentamente, anotando tudo o que o livro nos ensina, tudo o que ele contém de desconhecido para nós —