Saltar para o conteúdo

Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/102

Wikisource, a biblioteca livre

100
Collecção Antonio Maria Pereira

agora, que era demais para aquela pobre cabeça de misera pecadora, e que, talvez pela primeira vez, se curvava ao peso do verdadeiro remorso!

Então os homens que a rodeavam pareceram-lhe monstros que lhe gargalhavam injurias; o champagne, um liquido viscoso, a lama que lhe escorria pelas mãos, lama onde ela se tinha lançado e nela envolvera a sua filha tambem...

Ergueu-se. O olhar em fogo. Cambaleante e indecisa, fitava os companheiros d'uma fórma estranha! O do monoculo soltou uma gargalhada, esperando um discurso excentrico, mas o riso secou-se-lhe prontamente nos labios, quando a taça, arremessada com impeto, lhe foi bater na testa, fazendo-lhe saltar o monoculo a distancia, emquanto o champagne, escorrendo pelas faces, ia manchar a elegante gravata e a alvura do peitilho, tirando-lhe todo o seu chic de precioso figurino.

Levantaram-se atonitos! Arthur correu para ela, exclamando ancioso:

— Mas que foi, que te sucedeu?...

Ela afastou-o gritando, enrouquecida:

— Deixem-me!

Caminhava quasi correndo, seguida pelo amante e os outros um pouco vexados.

Passou a saída da feira e atirando-se para dentro do automovel, antes que o Arthur subisse, gritou:

— Para casa.

O automovel partiu como uma flexa, abafando os gemidos da pobre Maria Julia, que, enovelada a um canto, soluçava...