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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/111

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A dança do destino
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Elle curvou a cabeça sem responder. E eu, compreendendo a resposta no sen silencio, acrescentei:

― Nesse caso, o rei fez bem em partir.

― Pois foi esse o conselho que eu lhe dei ― acudiu vivamente.

― Então o senhor é conselheiro do rei, pelo que vejo?

― Tenho essa houra, ― e fez uma mezura.

― Mas...

― O que quer V. Ex. que eu faça? Tenho mulher e filhos, e é só dos meus doze empregos que eles vivem.

Nisto ouviu-se maior rumor, vozearias, tritos de vitória.

― Viva a republica! ― grita o meu amavel interlocutor entusiasmado.

No ano seguinte voltei ao Estoril.

Sentada no terraço do Casino, contemplava a limpidez do ceu, numa tarde ameua e radiosa, cuja luz esmaltava de prata o vasto tapete azul do oceano que se estendia a meus pés, perdendo-se no poente dourado que incendiava o horisonte.

Por uma associação de idéas, lembrei-me d'aquela aventura do pinhal, em que o ceu contrastava profundamente com o d'aquela tarde de enlevado encanto e assaltou-me uma viva curiosidade de voltar