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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/29

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A dança do destino
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Os pontos olhavam-no enojados.

Sujeitos que perdiam, tomavam-no para bode expiatorio e diziam convencidos:

— Pudera não perder! Com tal vizinho... Olhou-me, prompto! Que azarento estafermo!

Meteu a mão no bolso, sentiu frio.

Só tinha tres moedas de 200 réis.

— Os meus cinco mil réis, meu Deus! Os cinco mil réis do meu quadro e nada mais. Depois juro, juro por Deus, juro pela minha honra que não voltarei mais a este inferno, e de ámanhã em diante, o meu trabalho me levantará. Tenho sido um criminoso, com esta miseravel fraqueza de espirito! O assassino de minha mulher, o indigno pae do meu filho!... Ainda que passe aqui a noite, jogando ás côres, tostão a tostão, hei de readquirir esses cinco mil réis que roubei aos meus. A sorte que me restitua esse dinheiro, as botas para a criança, o pão de ámanhã, e nada mais quero, nada mais! 200 réis no encarnado, é a cor da alegria, deve trazer-me fortuna!

— 20, preto, grita o banqueiro.

— Era no preto que eu devia ter jogado! pois se é a cor da tristeza, que me rala!...

— 30, encarnado!...

E aquelas duas côres cruzavam-se n'um galope vertiginoso. Era o vermelho do inferno, era o negrume fatal da desgraça que o empurravam brutalmente para o abysmo escancarado, onde se despenhavam todas as suas esperanças.

E n'aquele cahos que lhe entorpecia o cerebro,