quando o proprio croupier se volta enjoado para êle e lhe diz:
— O senhor está a incommodar-me! não me deixa trabalhar!...
Um cavalo no 12! Era d'êle. Até que emfim! Ia para retirar o dinheiro, mas uma enorme mão, de unhas sujas, dedos escuros e asperos como garras, pousou com força sobre a mão d'êle, cravando-lhe as unhas infectas nos dedos, emquanto uma voz pavorosa bradava:
— E' meu!
Atrapalhado, não tendo já a certeza se seria ou não d'êle, desculpava-se:
— Eu pensava...
Mas o terrivel ponto retorquin logo:
— Pensava o quê? o que é que você pensava?... O que você queria sei eu!...
E uma velha, defronte, levantando os oculos para a testa, sem receio algum de o melindrar, fitava-o com um olhar atrevido e dizia, abanaudo a cabeça:
— E' preciso muito cuidado com os larapios! Hoje em dia ha tanto modo de vida!...
Que vergonha! já lhe chamavam ladrão!
E foi preciso vir aquela baiuca infame, êle, um artista honrado, tendo quasi luctado com a fome, sem nunca lhe ter perpassado pelo espirito a ideia de roubar um pão, fora prociso ali vir, para desconfiarem da sua honra!
Maldita velha! Se pudesse, matava-a!...
Mas os ditos choviam em volta d'êle; arrastavam-se as cadeiras.