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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/28

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Collecção Antonio Maria Pereira

quando o proprio croupier se volta enjoado para êle e lhe diz:

— O senhor está a incommodar-me! não me deixa trabalhar!...

Um cavalo no 12! Era d'êle. Até que emfim! Ia para retirar o dinheiro, mas uma enorme mão, de unhas sujas, dedos escuros e asperos como garras, pousou com força sobre a mão d'êle, cravando-lhe as unhas infectas nos dedos, emquanto uma voz pavorosa bradava:

— E' meu!

Atrapalhado, não tendo já a certeza se seria ou não d'êle, desculpava-se:

— Eu pensava...

Mas o terrivel ponto retorquin logo:

— Pensava o quê? o que é que você pensava?... O que você queria sei eu!...

E uma velha, defronte, levantando os oculos para a testa, sem receio algum de o melindrar, fitava-o com um olhar atrevido e dizia, abanaudo a cabeça:

— E' preciso muito cuidado com os larapios! Hoje em dia ha tanto modo de vida!...

Que vergonha! já lhe chamavam ladrão!

E foi preciso vir aquela baiuca infame, êle, um artista honrado, tendo quasi luctado com a fome, sem nunca lhe ter perpassado pelo espirito a ideia de roubar um pão, fora prociso ali vir, para desconfiarem da sua honra!

Maldita velha! Se pudesse, matava-a!...

Mas os ditos choviam em volta d'êle; arrastavam-se as cadeiras.