mas da pobre mãe, numa amargura indelevel que jamais a abandonaria.
Cresceu a criança numa infancia triste e opressiva, sob a indiferença egoista da tia, que mais se agravava quando a essa indiferença sucediam os ataques de irritabilidade que, por vezes, afectavam a senhora D. Purificação, tornando a pobre pequena uma martir inocente das violencias de caracter da austera senhora.
Acostumou-se Lia a viver sem carinhos nem afectos, a julgar-se diferente das outras crianças e sem direito, portanto, a queixar-se.
De mais, de que lhe serviria queixar-se, se ainda por cima lhe batiam?
De que lhe serviria desejar um brinquedo, se lh'o não davam?
Para que serviria, emfim, chorar, se isso só daria causa a maiores irritações e humilhantes ameaças?
Pouco a pouco tornou-se sêca e esquiva, a ponto de chegar a esconder se quando apareciam visitas, principalmente quando eram pessoas pouco íntimas da casa e de quem já esperava as curiosas perguntas do costume, que a fatigavam:
— A mamã?
— A mamã está muito longe, — respondia a pequena, sêcamente, compreendendo que tomavam a tia por sua mãe.
— Ah, sim? e o papá?
— Esse morreu.
— Mas, então, a senhora D. Purificação não é sua mamã?