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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/67

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A dança do destino
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— Escutando o meu talento,
esta scentelba divina —
folga a gente miudinha
e una dama pequenina. —

A gente miudinha eram os garotos.

Depois continuava, animado pelo bom acolhimento do auditorio:

— Senhora que estaes de luto,
já decerto sois viuva!
Quando os porcos todos bailam
anunciam muita chova.

A Cotovia sorriu, tirou 10 réis e deu-lh'os. Ele então, fazendo-lhe grandes reverencias, os cabelos em mólhos grisalhos cahindo lhe nos olhos, desfazia-se em improvisos de agradecimento.

 

Já ela se afastava lentamente, segnida por alguns dos garotos, na espectativa de serem atingidos pela generosidade da dama pequenina, e ainda o Gaspar, entre ironico e carinhoso, clamava:

— Nossa rica bemfeitora,
parece una flôr singela;
e os petizes que a rodeiam
são da mesma altura d'ela.

Depois reparou em mim e ao vêr-me rir, continuou na vertiginosa correria da sua inspiração e na doce perspectiva de uns cobresitos a cahirem da janela:

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