— Ó menina, tão loirinha,
tenha do pobre piedade,
e Deus the dê a idade
d'aquela boa velhinha.
E a mulher repetia numa voz muito aguda, de falsete:
— Tenha dó, tenha piedade!
Logo assomava uma creadita curiosa a outra janela, e êle gritava:
— Sopeirinha da janela,
dá-nos algo de jantar,
deixa ferver a panela,
vem ouvir o teu Gaspar.
E a voz esganiçada e choramingas da mulher repetia:
― Dá-nos algo de jantar!
As janelas dos predios visinhos iam-se abrindo e as moedas de vintem, dez réis e cinco réis saltavam sobre as pedras da calçada.
Então sucediam-se as árias, com trémulos comoventes, as cordas da viola chocavam-so frementes de entusiasmo, e o pobre Gaspar, curvando-se em evoluções serpentinas, sempre de melenas a baterem-lhe nos olhos revirados para o céu, vibrava, verdadeiramente sublime de comoção delirante.
Após as árias italianas, vinham os duêtos com a mulher, tercêtos em que entrava a filha, e até quar-