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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/68

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Collecção Antonio Maria Pereira

— Ó menina, tão loirinha,
tenha do pobre piedade,
e Deus the dê a idade
d'aquela boa velhinha.

E a mulher repetia numa voz muito aguda, de falsete:

— Tenha dó, tenha piedade!

 

Logo assomava uma creadita curiosa a outra janela, e êle gritava:

 

— Sopeirinha da janela,
dá-nos algo de jantar,
deixa ferver a panela,
vem ouvir o teu Gaspar.

E a voz esganiçada e choramingas da mulher repetia:

― Dá-nos algo de jantar!

As janelas dos predios visinhos iam-se abrindo e as moedas de vintem, dez réis e cinco réis saltavam sobre as pedras da calçada.

Então sucediam-se as árias, com trémulos comoventes, as cordas da viola chocavam-so frementes de entusiasmo, e o pobre Gaspar, curvando-se em evoluções serpentinas, sempre de melenas a baterem-lhe nos olhos revirados para o céu, vibrava, verdadeiramente sublime de comoção delirante.

Após as árias italianas, vinham os duêtos com a mulher, tercêtos em que entrava a filha, e até quar-