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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/69

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A dança do destino
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têtos e concertantes de óperas monumentaes, porque êle fazia simultaneamente de tenor, baixo profundo e... soprano ligeiro!

Era interessantissimo e divertiam-me imenso aqueles originaes concertos!

Entretanto, numa das lojas do predio fronteiro, numa baiúca muito negra o sordida, tendo apenas uma porta e uma janela quasi rente do chão, morava o meu visinho, o sr. Custodio, por alcunha o mestre Escangalha, porque concertava toda a especie do cousas, e as más linguas diziam que tndo ficava, depois de concertado, em peior estado que aquelo em que lh'o tinham entregado.

Mas o sr. Custodio, apezar d'isso, levava o ano inteiro no sen pardieiro, em mangas de camisa, sentado ao pé da janela, trabalhando naqueles objectos informes, d'uma diversidade infinita, em que êle remexia continuamente, uo pavor d'aquele buraco de janela, onde só se distinguia nitidamente a sua camisa clara.

Tinha no entanto os seus dias de filosofia, em que assobiava monotonamente desde manhã até à noite, e os seus dias de azar, como êle lhes chamava, em que resmungava, como endemoninliado, durante horas consecutivas.

Nesse dia, o meu visinho não estava contente. De cotovelos encostados ao buraco da negra baiúca, os oculos subidos para a testa, olhava enraivecido para as moedas de cobre que a mulher do Gaspar levantava do chão e guardava na engordurada escarcela.