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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/86

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Collecção Antonio Maria Pereira

ha pouco, e brilhantes agora, de olhar inflamado, com pupilas de lume.

O ar trezandava a revolução e benzina, respirava-se uma atmosfera de combates e roupa suja.

Pela vidraça da janela em frente, via-se sangue no horisonte, laivos vermelhos no ceu, feridas escancaradas nas nuvens, toda a atmosfera carregada de pavores, ameaças, visões tragicas de cataclismos.

Havia arrepios em todas as medúlas e torcegões de estomago, lembrando o jantar.

Um verdadeiro sucesso e um aperitivo.

A tarde tombava sobre a luz, lentamente, melancolica, quando os ouvintes dispersaram, despedindo-se admirativos do grande orador que lhes recebia os cumprimentos e felicitações, sorridente, glorioso e cheio de suor.

Os pequenos aproveitaram a confusão d'esse momento para saírem do esconderijo, fazendo as suas despedidas, na rua, à pressa porque já era tarde para Mario. Ele estava com medo que o pae já tivesse chegado e désse pela sua falta.

Arthur só teve tempo de lhe perguntar:

— Gostaste?

— Muito! — gritou Mario, deitando a correr.

O pae ainda não tinha chegado: Que fortuna! Mas não tardava que aparecesse: isto é que era sorte!

Nessa noite levou muito tempo, primeiro que conciliasse o somno.

Não via senão a pae de Arthur, de melenas desgrenhadas, braços estendidos, gesto nervoso, olhar