abordára ás luzitanas praias. Dentro em pouco era elle o pae d'uma nomerosa familia de litteratos.
Appareceram então os folhetinistas. Surgiram da obscuridade as vocações pronunciadas e as tentativas ridiculas. Appareceram então homens que por as suas promettedoras estreias preludiavam grandes genios. Appareceram os Janins, na França, os Mariannos Larras, na Hespanha e os Lopes de Mendonça e Cezares Machados, em Portugal. Estas é que eram as vocações pronunciadas. O certo é que depois da innovação o periodico tanto entrava na camara da mulher como no escriptorio do político. Tem-se, por ahi, dito o que seja o folhetim e o folhetinista. Cá para mim o folhetim é um genero de litteratura ameno e agradavel.
O folhetinista é o homem de bom gosto, com um genio travesso como o d'uma criança, que passa por sobre as novidades do dia como uma borboleta por as camelias d'um jardim; é um gymnasta, um acrobata perfeito, que despede, ás vezes, uns ditos agudos e epigrammaticos, que ferem a victima como a frecha d'um arco; finalmente, um homem, que tendo uma alma altamente progressista enterra o chapeu de feltro até ás orelhas para não ouvir as discussões bombasticas da politica, que lhe troveja por sobre a cabeça. O folhetinista quando não tem de que se rir, solta um sorriso aristarchico, ri-se de si mesmo e conclue rindo-se do publico, que se rira das espirituosas facecias com que, maliciosamente, lhe soubera prender a attenção.
O folhetim foi contaminado na sua essencia por algumas variantes menos apreciaveis e espirituosas.
Appareceu a Chronica, filha primogenita do folhetim, cuja indole apresenta um caracter mais sisudo e imponente. O folhetinista indica e analysa superficialmente, o chronista descreve e tem obrigação de descer ao intimo das cousas.
A revista theatral teve por pae o folhetim e por mãe uma noticia diversa, que apparecia na gazetilha e na qual o jornalista aventava a sua opinião sobre um drama que não vira e uma opra... que conhecia do cartaz.
De maneira que a revista theatral é o termo medio entre o folhetim, propriamente dito, e uma insignificante local, que tem por unico fim... cansolar os que não foram ao theatro.
Mas lembro-me agora de que estou lavrando sentença contra mim mesmo. Pois não veem o substantivo — chronica— no cimo d'estas linhas? E a chronica, disse eu, que era nada menos que uma descripção exacta e eu tenho fallado do folhetim... sem me importar com o que vai nem com o que vem. Hoje cada um formula leis a seu modo e de mais o uso permitte-me empregar aqui, a palavra chronica em vez de folhetim.
Tem-se visto que o folhetim pertence aos jornaes politicos como a chronica aos litterarios.
Por uma rasão obvia. E' que a indole amena do folhetim recreia o espirito do leitor no vaguear pelas escabrosidades d'um jornal politico. O logista, por exemplo, que é assignante d'um jornal litterario tem uma pronunciada embirração com aquelles artigos d'amor e poesias de sentimento e por conseguinte diz ao proprietario do jornal que quer umas prosas noticiosas, desataviadas das flôres do estylo e... diga-se a verade... que estejam ao alcance da sua intelligencia. Apparece então a chronica.
Mas é que se o chronista se affasta da trilha, que o uso lhe marca, chovem-lhe sobre a cabeça mil imprecações dos assignantes... logistas. Por conseguinte vou principiar.
Nos caffes, nos passeios, nas salas, nos templos até [sacrilegio inaudito!] é assumpto de discussão o debute da Borghi-Mamo. A plateia do Porto — o Jazon dos nossos dias — não tinha até aqui descoberto o vellocino da harmonia. Apparecera elle não em Colchos, mas sim no Porto e no proscenio do theatro de S. João. Appareceu no ano de 1865, anno notavel por ser de crise ministerial... e alimenticia segundo prophetiza alguem. Appareceu no anno em que o Porto — este burguez illustrado — lida, trabalha e pensa para mostrar ás nações europeas uma exposição internacional, que é, seguramente, a mais arrojada concepção dos homens progressistas de Portugal. Appareceu n'este anno, como lhes queria dizer, Borghi-Mamo.
Borghi-Mamo, que fizera este anno as deli-