no teu lençol de soffrimentos, descaiu-me a magua, a cegueira do espirito, ferido do sôpro do seculo, desatou-se n'um pelago de luz, e a amargura que me pungia deliu-se nos golpes de sangue que tu verteste das feridas que a divina misericordia te abriu para balsamo do desditoso e salvação do mundo!»
Quando achei labios para a oração e bôca para beijar os roxos pés do Christo, o suor livido, que lhe banhava a fronte, inundou d'esperança o meu espirito, que tremia ao pé do verme to tumulo, que para mim era então a estrella negra a luzir horrores no chão do feio nada!
Hoje o luar, que banha a cruz para ao depois se estender no veu alvissimo do contricto, não é nortada que creste as folhas d'alma, quando abandona o pó e vae sussurrar nas agruras do somno eterno!
E não. Eu amo o cemiterio, porque me dá luz no fervedouro de vermes; eu detesto a philosophia que me offerece vida na taça da descrença!
Eu amo o inverno que me entristece de nuvens o céo para ao depois branquear a alva da manhã; eu odeio a primavera que me franje de boninas o horisonte para ao depois vir o vulcão das tardes entenebrecer o dia de rosas!
Um dia, a religião esqueceu-se tanto e tanto do desgraçado que só veio quando elle agonisava na cabeceira do ultimo leito! Feliz olvido...
Barca, 28 de março, 1863
Tens vinte annos, pomba candida!
E's a rosa perfumada,
Que ao explendor d'alvorada
Desata suave olôr
O teu nome é o doce balsamo
Que a minha vida perfuma,
E eu, perdido entre a bruma,
Busco o sol do teu amor...
Não vês o fogo da lagryma
Tão brilhante como o aljofre?..
Mudo fallar de quem soffre
É sobre a terra o chorar...
Olha, attende, a vida é rapida,
Amenisa este caminho...
Do teu collo sobre o arminho
Deixa-me a fronte pousar...
28 de março de 1865
O sexo femenino importava-se pouco com os jornaes politicos. E tinha rasão. Nunca a mulher lançava mão d'um periodico e se lançava, relanceava apenas os olhos por sobre a variada gazetilha, porque o seu genio travesso e folgazão não comportava as discussões aridas e pesadas da politica. Um dia, um elegante francez, de luva côr de violeta e bota de polimento, charuto na bocca e lunetas assestadas, entrou por Portugal dentro, dando-se ares de gente fina e dotado d'um genio altamente progressista originou uma admiravel revolução no jornalismo portuguez. Teve o espirituoso francez uma recepção maravilhosa, em Portugal.
O jornalismo portuguez offerecera-lhe então uma generosa hospitalidade digna dos tempos de Euryalo. Teve o litterato parisiense uma hospedaria nos baixos das columnas de cada jornal politico.
Da maravilhosa recepção que tivera, nascera a immensa popularidade, que grangeára. Chamava-se feuilleton o bom do francez, que