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Esmanario ― A esperança
121

Carta

Ao illm.o snr. Alberto Pimentel

Muito bem snr. Pimentel: está decedido que podemos escrever, que estamos em paz com os litteratos e quando algum ouse atacar-nos que temos duas potencias alliadas e amigas em nosso favor para auxiliar-nos, pois que ambas teem no arsenal da sua imaginação recursos bastantes para defender-nos; são ellas os illustrissimos snrs. Viterbo e Pimentel, mancebos intelligentes e muito instruidos.

Diz-me o snr. Pimentel que tem dezeseis annos! Uma criança na idade; porém muito velho no juizo, talento e estudos; ninguem aproveitará mais em tão verdes annos! A sua estrela presagia-lhe um futuro de gloria, oxalá que ella nunca seja eclipsada por nuvem tempestuosa!..

Fique V.S. na certesa que lhe serei sempre muito veneradora e obrigada,


Porto 26 d'abril de 1865

Maria Adelaide Fernandes Prata.

 

 

Maria Isabel

por

Maria Peregrina de Sousa

Dedicado á memoria de minha irmã

Não dá quem tem,
senão quem quer bem
.

Rifão


(Continuado da pag. 101)

XV

A pomba entre milhafres

Maria Isabel ficou agitada. Passeou no quarto murmurando o nome de sua mãe, e derramando algumas lagrimas. Depois olhou por todo o quarto em busca de alguma imagem da Virgem ou de Christo; e não achando o que buscava, ajoelhou, voltada para a janella, ergueu os olhos e as mãos para o céo e rezou. Levantou-se mais animada. Assentou-se perto da janella, e estendeu a vista pelos campos, arvoredos, e casas que se lhe apresentavam n'um lindo panorama. A vista da naturesa acabou de lhe tirar o susto que só o nome de Villar lhe causára. Esqueceu Amaral, e ficou pensando em seus paes, e depois em Francisco e Maximino, que na vespera a tinham encontrado desmaiada. Os primeiros pensamentos fizeram-n'a chorar, os segundos secaram-lhe as lagrimas e inrubreceram-lhe as faces. Francisco lhe dissera, que Maximino a amava. Seria isto verdade? O coração dizia-lhe que sim. E comtudo não devia voltar a vel-o. Começaram-se-lhe de novo a humedecer os olhos, quando ouviu ruido. Enchugou á pressa a traiçoeira lagrima, que lhe assomára ás palpebras, como se receiasse que ella tivese o cunho de lagrima de ternura e saudade amorosa.

A porta abriu-se. Ermelinda entrou. A donzella ergueu-se e foi ao encontro da sua hospedeira; cumprimentou-a, e agradeceu-lhe os cuidados e delicadeza com que a tratava, acrescentando, que desejava ser tratada mais conforme ás suas circumstancias.

— O' minha linda menina, replicou a viuva,

Primeiro anno — 1865
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