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A esperança
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A mulher - sua educação

Seja-nos permittido elevar um dia a voz, não em defesa dos nossos direitos, pois os não temos, mas sim em auxilio da nossa causa.

Confessar nossas proprias convicções, nossos principios, esses principios innoculados em nossas almas pela mesma naturesa, com o primeiro baptismo de pranto das nossas mães, menospresados ou destruidos depois pelo abuso de mal applicadas educações, não é crime de que não sejamos promptamente absolvidas.

Mulher, ainda mais pelo coração do que pelo sexo, se todavia me posso assim exprimir, não proclamo o phantasma da emancipação feminina; essa risonha e feiticeira utopia, nunca encontrou em minha alma o calor do enthusiasmo com que muitas a saudam. A liberdade e emancipação da mulher, como muitas as intendem, se não fosse uma ficção, um sonho irrealisavel, seria uma grande desgraça para ambos os sexos! Faria no globo uma completa revolução, com todas as suas funestissimas consequencias, sem outro resultado, mais que peiorar a condição da mulher, sem melhorar a do homem. Bem sei que poucas o quasi nenhumas assim pensam, pois que se deixam arrastar por falsas apprehensões; eu, porém, declaro que, se hoje se armasse uma crusada feminina sob as bandeiras da liberdade, contra o imperio do homem, não entraria na arêna.

Felizmente para todos, se a reacção algumas vezes se manifesta, não é ainda em campo descoberto.

Não estará bem collocado o sceptro? está, porque o sceptro é a força, e a força é o homem; cumpre-lhe, todavia, voar mas não abusar d'ella.

Ora o homem compõe a sociedade, e é esta que corrompe as mais das vezes a mulher, desnaturando-a, dando-lhe uma alma que ella não deveria ter, e que será tudo quanto lhe queiram chamar, excepto a alma com que a Deus dotou, para fazer a felicidade sua e do homem a quem se associa.

Dêem á mulher uma educação e principios coherentes com a sua naturesa, e sobre tudo com a duplice condição de esposa e de mãe; suffoquem-lhe, ao nascer, esse perigoso germen de vaidade, que rapido se desenvolve quando affagado e protegido, e que opprimido e castigado, se dobra como vime, de mui cedo costumado a curvar-se sob o imperio de vontade alheia!

Fallam contra a mulher, combatem-n'a com a penna e com a palavra, mas não vêem que a semente do mal, foram elles proprios a lançal-a em suas almas, esmerando-se depois em sua cultura?! Nascida entre cambraias, educada entre sedas, vivendo entre velludos, que póde a mulher aprender, senão luxo e ostentação em toda a sua plenitude?!

Demais o systema das educações actuaes, não tem por base unica, o desejo de agradar ao mundo, e por unico fim os applausos da sociedade?

Creio que sim.

Toda a mulher que entra n'uma sala com garbo, corteja galantemente a assemblêa, compõe um sorriso a proposito, responde com um ― ah! ― desdenhoso ou innocente aos cumprimentos do par, tósse, impallidecendo, quando a brisa refresca, como sensictiva que desfallece ao mais ligeiro contacto, falla em francez com a amiga, e dizer ― bonjour ― ao papá, tem completado sua educação: isto é a educação mais ampla, mais brilhante, que uma menina presentemente póde attingir, e qualquer mãe aspirar para suas filhas!

Que erro, que absurdo em que a sociedade labora, e que tristes principios para a mulher, que em breve vai ser esposa e mais tarde mãe!!

Agora ponderem bem commigo as funestas consequencias de tudo isto.

A mulher, rainha um momento, rainha por sua bellessa, rainha por seu espirito, rainha por seus atractivos estudados ou naturaes, toma das mãos da sociedade o sceptro que lhe esta confere, deixando-se coroar de lisonja pelo homem que lhe queima incenso nos degraus do throno, por entre calorosas homenagens de vassallo! D'ora ávante senhora do seu imperio, conscia

Primeiro anno — 1865
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