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A esperança
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sou a França. Immediatamente entrou no collegio dos jesuitas para continuar os estudos, e ahi se applicou ás mathematicas. Completando o curso, foi nomeado engenheiro e partiu para a Allemanha, d'onde voltou ferido e descontente, vivendo algum tempo em Pariz, pobre e despresado por seu pae.

Entretanto a sua imaginação estava sempre em activo movimento. Tinha sonhado o estabelecimento d'uma colonia nas margens do lago Aral, e por isso partiu para S. Petersburgo; não podendo porém executar este projecto, que meditava havia muito tempo.

Depois de viajar pela Polonia e Prussia, Bernardin voltou a França, e d'ahi foi enviado, na qualidade de engenheiro, a uma das ilhas pertencentes áquelle reino, d'onde voltou pobre, mas trazendo uma producção ― Viajem á Ilha de França, ― que publicou com muito bom exito em 1771. Foi então que repellido pelos philosophos da época, cujas maximas repugnavam aos seus sentimentos religiosos, sentiu em algumas occasiões alterar-se-lhe a rasão. Diz-se que era de caracter desconfiado; todavia, travou relações com João Jacques Rousseau, a quem visitava frequentemente.

Finalmente, d'entre as agitações da sua vida inquieta, sahiu o livro intitulado ― Estudos da Naturesa. ― Um grito de enthusiasmo se levantou de toda a parte para saudar o novel escriptor, que manejara com tanta arte os encantos do espectaculo da natureza. O que porem estabeleceu solidamente a sua reputação foi ― Paulo e Virginia. ― Pouco tempo depois publicou as ― Harmonias da Naturesa.

Luiz XIV confiou-lhe mais tarde a direcção do Jardim das Plantas. Em 1794 foi nomeado professor da escóla normal, a fim de leccionar um curso de moral, porém, obteve pouco resultado. Em 1795 exerceu o professorado no Instituto; e no tempo do Imperio foi-lhe conferida uma valiosa pensão; porém, pouco gosou essa tranquillidade, porque falleceu em 1817, ficando honrada na patria a sua memoria

 

Ribeiro Gonçalves

Maria Isabel

por

Maria Peregrina de Sousa

Dedicado á memoria de minha irmã

Não dá quem tem,
senão quem quer bem
.

Rifão


A esposa de Ricardo d'Oliveira suspirou profundamente. Sua filha, que lhe leu no pensamento, disse:

― O exterior d'esta mulher não dá a conhecer quanto ella é boa e compassiva.

D. Maria Carlota tornou a suspirar. A donzella exforçou-se em provar-lhe que estavam o melhor que podiam estar nas actuaes circumstancias, e que deviam desculpar as maneiras da sua hospedeira, e soffrer-lhe as suas imperfeições. Concordava a mãe em tudo, sem deixar de suspirar.

Ouviu-se algum ruido nas escadas, mas, como os visinhos eram muitos, não deram importancia a isso. Carolina deixára a porta cerrada. Abriu-se, e appareceu á porta um moço de