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A ESTRELLA DO SUL

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cessões uma d'essas tabernas onde se despeja o melhor dos lucros dos mineiros. Um fazendeiro das margens do Hart, um Boer do Estado Livre do Orange, um corretor do negocio do marfim que ia para o paiz dos Namaquas, dois colonos do Trasvaal, e um china chamado Li, — como convem a um china, — completavam uma companhia tão heterogenia, desvergonhada. suspeita e ruidosa, como nunca encontrou um cavalheiro que se preza.

Cypriano ao principio divertia-se com as physionomias e modos d'aquelles sujeitos; mas depois cansou-se. Apenas continuaram a interessal-o o inglez Thomaz Steel por causa de sua natureza valente e riso aberto, e o china Li com os modinhos suaves e felinos. Mas inspiravam-lhe insuperavel sentimento de repulsão as graçolas sinistras e a cara patibular do napolitano.

Durante dois ou tres dias uma das partidas mais apreciadas d'este figurão consistia em atar ao rabicho que o china trazia pelas costas abaixo, á moda da sua terra, toda a casta de porcarias, molhos de herva, talos de couves, um rabo de vacca, uma omoplata de cavallo apanhada no caminho.

Li desatava sem se impacieotar o appendice acrescentado ao seu comprido rabicho, e nem por gestos ou por palavras, nem mesmo por um olhar, dava a entender que a brincadeira lhe parecia exceder os limites permittidos. O rosto amarello e os olhos reprimidos do china conservavam inalteravel placidez, como se elle fosse alheio a tudo o que se passava á roda de si. E realmente julgar-se-hia que elle não entendia nem uma só palavra do que se dizia n'aquella arca de Noé que rodava para o Griqualand.

Por isso Annibal Pantalacci não perdia a occasião para acrescentar, em pessimo inglez, commentarios variados ás suas invenções de trocista muito ordinario.