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– Há quanto tempo não mexo nisto! Faz-me saudades... Escolhe tu...

– Não... escolheremos juntos...

Argemiro abriu a caixa e logo Assunção suspirou de alívio vendo reluzir as pedrarias dos anéis e das pulseiras.

– Ela tinha muitas jóias... gostava de brilhantes... e a Glória, por enquanto, ainda não pode usar brilhantes... – disse Argemiro.

Colares, broches e pulseiras iam sendo retirados do cofre, com a maior atenção, num silêncio comovido.

Quantas vezes a dona lhes sorrira e os deslumbrara no meio daqueles adereços?

Não brilhava tanto uma estrela, como os seus cabelos de ouro coroados por aquele diadema... os anéis faziam-lhe saudades dos seus dedinhos pálidos e meigos.

De repente, Assunção gritou com júbilo:

– Este!

– Este? É também de brilhantes...

– São uns diamantinhos modestos. E depois representa uma avezinha inocente, símbolo da primavera... leva-lhe esta andorinha, e coloca-a tu mesmo no peito de tua filha, em nome de sua mãe...

– Mas que tens tu? estás trêmulo, com os olhos rasos d’água!

– Abraça-me, meu velho. Também eu tive saudades de Maria... que queres?