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Nos ramos tinha rôscas reluzentes,
Altas arrancas a silvar injúrias;
Lembrava a copa, a trança de serpentes
— A cabeleira trájica das Fúrias —.

Folhas bebendo a luz a grandes sórvos
Pela taça do Céu a trasbordar,
Tam negras, tam inquietas, como os corvos,
Quando pairam com fome sobre o ar.

Via-se o Sol a dar-lhe repelões,
A Terra a conserva-la inda mais presa,
Penetrava d'angustia os corações,
Chegava a ser sinistra de grandeza;

Assim, alguem que foi sepulto em vida,
A meio corpo fora, se corcova
E põe a fôrça toda na saída,
Louco por se arrancar á horrível cova!

De noite projectava a sombra escura
Em plena fauce lôbrega do Empíreo;
E viam-se-lhe gestos de loucura,
Ouviam-se-lhe falas de delírio.