E as borboletas azuis foram reformadas, ficando mansinhas como besouros.
— E as moscas? — perguntou a Rã.
— E as moscas — respondeu Emília — vão ficar sem asas, porque são uns bichinhos inúteis e incômodos. Sem asas terão de andar pela terra, como as formigas, e num instante as formigas dão cabo de todas. Para que moscas no mundo? Suprimindo as asas, liquidaremos com as moscas.
— E os pernilongos também?
— Está claro. Esses ainda são piores, porque transmitem moléstias e fazem Dona Benta gastar muito dinheiro com Flit. O Visconde diz que a febre amarela, a malária e outras doenças são transmitidas pelos pernilongos. Corto-lhes as asas e adeus pernilongos, adeus febre amarela, adeus malária ...
A Rã alegou que isso vinha diminuir a música que há no mundo, porque os pernilongos cantam a música do Fium e propôs outra reforma:
— Em vez de suprimir as asinhas deles, podemos fazer que percam o gosto pelo sangue e aprendam outras músicas além do Fium. Poderão alimentar-se de água açucarada, ou mel das flores. E podemos fazer gaiolinhas minúsculas, de fios de cabelos, do tamanho de caixa de fósforo, para termos em casa pernilongos cantores. Seria uma galanteza. Um freguês chega a uma loja e pede: "Quero um pernilongo na gaiola, dos bons." E o caixeiro traz várias gaiolinhas para ele escolher, todas com um cantor do Fium dentro. Mas acho os pernilongos pequenos demais. Eu os faria assim do tamanho de camundongos.
— Oh, não! — protestou Emília. — Sou inimiga do tamanho. Acho que as coisas quanto mais se aperfeiçoam, menores ficam.
A conversa caiu sobre o tamanho. Emília contou vários episódios do tempo em que ela destruiu o tamanho das criaturinhas humanas, como está contado na CHAVE.
— O tamanho, Ră, é tolice das tolices, coisa inútil, que só serve para atrapalhar. Se dentro duma formiguinha cabem todos os órgãos necessários à vida — coração, cérebro, pulmões e o mais, e se pequenininhas como são elas se arranjam tão bem no mundo, por que motivo um tamanhão como o do Quindim, por exemplo? Se os homens fossem do tamanho de pulgas, seriam mais felizes. A desgraça dos homens está no tamanho. O Coronel Teodorico tem quase dois metros de altura e pesa cem quilos. Mas que adianta? Não