— Em vez de chumaço, Rã, podemos espetar nas pontas uma bola de borracha maciça — uma bola "tirável", isto é, que possa ser tirada de noite.
— Para quê?
— Para que ela possa defender-se de algum ataque noturno. Os chifres são a única defesa dela, coitada.
— Mas que perigos noturnos há por aqui?
— O das onças, minha cara. Tio Barnabé diz que uma antepassada desta Mocha foi comida por uma onça.
— De dia a Mocha pode usar a bola porque as onças só atacam durante a noite.
E a Mocha foi armada de dois esplêndidos chifres elegantemente retorcidos como saca-rolhas, com duas bolas maciças nas pontas — bolas "tiráveis".
O pelo da vaca também sofreu reforma. Ficou macio como pelúcia e furta-cor.
Estavam ocupadas na reforma da Mocha, quando passou por cima delas uma linda borboleta azul.
CAPÍTULO V
BORBOLETAS, MOSCAS E FORMIGAS
EMILIA ESQUECEU a vaca e saiu correndo atrás da borboleta, a gritar: "Dessa não tenho ainda!" Mas não conseguiu pegá-la; cansadinha da corrida, explicou:
— Estou fazendo uma bela coleção de borboletas e dessas azuis não consigo. São das mais ariscas. Temos também de reformar as borboletas.
— Impossível, Emília! — gritou a Ră. — Tudo nelas é tão bem feito, tão direitinho e lindo, que qualquer reforma as estraga.
— Minha reforma das borboletas — explicou Emília, — não é na beleza delas e sim no gênio delas. Quero que se tornem "pegáveis", como os besouros. Já reparou que besouro não foge da gente? Mansíssimos. Mas as borboletas, sobretudo destas azuis, são umas pestes de tão ariscas. Quando descubro uma sentada e me aproximo, ela "bota-se!".