A Rã, que entendia um pouco de política, achou que as grandes nações eram muito orgulhosas para se sujeitarem a ser simples Estados dum grande Estados Unidos.
— Pois se não se sujeitarem, pior para elas — declarou Emília. — Dona Benta acha que os homens devem formar no mundo uma coisa assim como as formigas. Elas são de muitas raças, ruivas, pretas, saúvas, sarassarás, quenquéns etc., mas vivem perfeitamente lado a lado umas das outras sem se guerrearem, sem se destruírem. Se as formigas conseguem isso, por que os homens não conseguirão o mesmo?
— Mas acha que os grandes de lá — os reis, os ditadores, os homens importantes vão seguir os conselhos de Dona Benta e tia Nastácia?
— E que remédio? — respondeu Emília. — Enquanto eles se guiaram pelas suas próprias cabeças, só saiu piolho: desgraças e mais desgraças, destruições sem fim. Eles devem estar convencidos de que, apesar de toda a importância, não passam duns tremendos pedaços de asnos.
A Ră concordou.
A noite, quando foram dormir, ficaram as duas na mesma cama conversando até tarde da noite. O assunto era sempre o mesmo: reformas e mais reformas. Em certo momento, uma pulga mordeu Emília. Ela acendeu a luz e pôs-se a caçá-la na brancura do lençol. Pegou-a, afinal. Enrolou-a bem enrolada entre os dedos e largou-a "para ver". E o que viu foi a pulga reviver e escapar aos pulos.
Emília danou.
— É sempre o que me acontece! Esfrego, enrolo as pulgas e elas se desesfregam, se desenrolam e saem pulando. Tenho também de reformar as pulgas.
— Como?
oderei fazê-las molinhas como qualquer môsca. Já reparou que para o tamanho que têm, as pulgas são a coisa mais rija que existe no mundo? Mais rijas que borracha... E também vou mudar a velocidade do pulo das pulgas. Faço pulos em câmara lenta, de modo que a gente possa pegá-las no ar com a maior facilidade, como estivéssemos colhendo uma bolotinha.
A Rã lembrou um "melhoramento" ainda melhor.
— E se cortássemos o pulo das pulgas pelo meio? — disse ela.
Emília não entendeu.
— Cortar, como?