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Página:A Reforma da Natureza (12ª edição).pdf/28

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MONTEIRO LOBATO

— A pulga pula. Quando chega no ponto mais alto do pulo, pára. Fica paradinha no ar, como um ponto final. E a gente, sossegadamente, a pega e a estala entre as unhas. Gosto muito de ouvir o estalinho das pulgas. É o único inseto que tem essa habilidade.

— As baratas também sabem estalar — lembrou Emília. — Cada vez que Narizinho pisa numa, ela estala. É a linguagem das pulgas e das baratas. E também dos chicotes. Pedrinho tem um chicote que é mestre em estalos.

CAPÍTULO VII

OS ODRES VIVOS E O PESO



A RÃ FALOU nos percevejos, uns bichinhos inexistentes ali no Sítio, e teve de contar a história dos percevejos do Rio.

— São fedorentíssimos — disse ela. — Eu tenho verdadeiro horror a esses monstros noturnos. Chupam o sangue da gente durante o sono e ficam gordos que mal podem andar. E quando esmagamos um, Emília, ah, que cheiro! Empesta o ambiente.

— Eu, só de me lembrar, já sinto enjôo de estômago.

Emília teve uma idéia.

— Pois podemos reformar os tais percevejos dum modo muito simples: fazendo que em vez de mau cheiro eles tenham cheiros deliciosos, melhores que todas as essências das perfumarias. Desse modo eles ficarão importantíssimos no mundo. Serão pequenos odres vivos cheios de perfume. Sabe o que é odre?

A Rã sabia. Lembrou-se logo daqueles odres de vinho que D. Quixote espetou com a espada, derramando todo o vinho do estalajadeiro [1].

— Pois é — continuou Emília. — São vasilhas de pele ou couro que a gente de dantes usava. Dona Benta tem um pequeno odre de borracha que enche de água quente para aquecer os pés nos dias muito frios — mas não diz odre — diz "a minha bolsa dágua". "Quem tirou a minha bolsa dágua lá do banheiro?" E é sempre Pe-

  1. D. Quixote das Crianças.