— Que bonito se fizéssemos uma viagem pelo corpo humano! — murmurou.
— Pois se fizéssemos essa viagem, eu só queria ver as glândulas — disse o Visconde. — Elas são umas danadas. Não há o que não façam. E existem duas que me interessam muito: a Tiróide e a Pituitária.
— Que nomes!
— A Tiróide mora no pescoço. É pequenina, com a forma dum U e cor de borra de vinho. Vive cheia dum líquido amarelo, chamado Tiroxina.
— Para que serve?
— Ela derrama esse líquido no sangue com resultados maravilhosos. Faz que a criatura cresça, imagine! E também faz que tudo fique ativo no corpo. É como um chicote. Quando há falta de Tiroxina, o corpo amolece, vem a preguiça, o pulso cai, a temperatura desce, o freguês perde o apetite, a fala fica arrastada, o cérebro emburrece, o cabelo rareia, a pele torna-se amarela, a carne incha — um desastre, Emília! As crianças com pouca Tiroxina no corpo param de crescer e ficam bobas — ficam cretinas.
— Ah, então cretino quer dizer isso?
— Sim. Um cretino é uma pobre criatura em quem a Glândula Tiróide está desarranjada. Se você conserta a glândula, a criatura muda imediatamente e perde o cretinismo.
— Que coisa engraçada!
— Outra danadinha é a senhora Dona Pituitária. Muito pequena, assim duma meia polegada de tamanho. Mora dentro da cabeça. O seu caldinho, a Pituitrina, tem um efeito prodigioso no organismo, sobretudo nos intestinos, ou tripas, e nos rins. Se ela produz o tal líquido mais do que na conta certa, o freguês sente um apetite furioso por açúcar e doces, e engorda até ficar obeso.
— Vamos, Visconde — disse Emília assanhada — vamos fazer uma viagem pelo corpo humano! Está com jeito de ser mais interessante até do que a Lua.
— Havemos de ir, e então veremos que o caldinho do Pituitária também governa o crescimento do corpo. Quando o caldinho é demais, o freguês fica gigante, quando é de menos, fica nanico ou anão.
— Então quando a gente vê o Major Trancoso, que tem um metro e noventa de altura, já sabe que ficou assim por causa de muita pituitrina?