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A REFORMA DA NATUREZA
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Até para essa gordurinha que as pessoas têm sobre a pele são necessárias glândulas — as Glândulas Sebáceas.

— Produtoras de sebo, que feiúra! — exclamou Emília. — De modo que nós somos lá por dentro uma verdadeira cidade com fábricas até de sebo?

— Como não! E uma cidade complicadíssima. Além dessas usinas de bílis, de lágrimas, de suor, de sebo, há as que produzem o suco gástrico lá no estômago; há as que produzem a saliva na boca...

— Que porcaria! Saliva é cuspo. Para que serve cuspo? Só para cuspir.

— Não, Emília. A saliva tem um emprego muito importante na digestão das comidas. A gente come arroz, feijão, carne, batatas, mil coisas. Mas isso tem que ser transformado em sangue, porque o sangue é o mel que alimenta todas as células que compõem o corpo.

— Que engraçado!...

— E não é só isso. Não basta que o sangue apareça, é preciso que se conserve sempre no ponto, bem vermelhinho e fresco; e é ainda uma glândula, o Pulmão, que faz o serviço, consertando o sangue estragado.

— Mas como é que o sangue se estraga?

— Muito simples. O corpo é feito duns tijolinhos microscópicos chamados células. Esses tijolinhos só se alimentam de sangue. Para alimentá-los é que há sangue. Mas do sangue que chega até eles só tomam os elementos de que precisam e rejeitam o resto. Esse resto é o que chamo sangue estragado.

— E para onde vai ele?

— Vai para o Pulmão, que é a oficina consertadora do sangue. Quando chega lá, o sangue estragado sofre uma limpeza em regra, toma um banho do ar que respiramos, escova-se, penteia-se, fica de novo vermelhinho e no ponto, como era. Dali segue para o Coração. O Coração o bombeia, forçando-o a fazer outra viagem pelas artérias até chegar a todos os tijolinhos do corpo. E assim por diante.

— Mas como o sangue estragado não se mistura com o fresco?

— Cada um tem o seu caminho. O sangue fresco segue pelas artérias, que são canaizinhos que se vão desdobrando como galhos de árvores, até ficarem finos como agulhas. Já o sangue estragado segue por outra rede de canaizinhos chamados "veias". As artérias são como a canalização de águas das cidades, na qual só corre água limpa. As veias são como as canalizações das águas servidas.

Emília estava pensativa, com os olhos longe.