CAPÍTULO I
O LABORATÓRIO DO VISCONDE
A VIAGEM DE Dona Benta e seus netos à Europa, quando foram dar arrumação no pobre continente destruído pela guerra, fez do Visconde de Sabugosa um sábio ainda maior do que era. Durante a estada lá, o famoso sabuguinho teve ocasião de conhecer diversos cientistas notabilíssimos, com os quais aprendeu grandes coisas. Seus estudos se concentraram na fisiologia, isto é, na ciência que estuda o funcionamento dos órgãos nos seres vivos.
Ele aprendeu, por exemplo, que no corpo do homem e de outros animais existem umas coisas chamadas GLÂNDULAS, que são da maior importância para a vida. As glândulas é que dirigem tudo: fazem o corpo crescer, engordar, suar; fazem vir água à boca quando o freguês se lembra duma coisa gostosa ou sente o cheiro dos bolinhos de tia Nastácia. Uma enorme glândula chamada Fígado produz um líquido grosso, amarelo-esverdeado, de nome Bílis, que ajuda a digestão dos alimentos e resolve as gorduras — faz com elas o que faz o sabão. Outras glândulas chamadas Rins, que têm a forma de dois grandes caroços de feijão, filtram os venenos que se formam no corpo e os botam para fora com a urina. Há as Glândulas Mamárias, que produzem o leite. O Pulmão é outra glândula muito importante...
— Mas então aquilo dentro é só glândulas? — perguntou Emília, a quem o Visconde estava explicando aquelas coisas. Dona Benta respondeu:
— Há dentro do corpo humano numerosas glândulas. São como as usinas das cidades, que produzem todas as coisas necessárias à vida urbana. Sem essas usinas e sem essas glândulas, nem as cidades nem os organismos poderiam viver e desenvolver-se. Quando a gente sua ou chora, donde vem o suor ou a lágrima?
— Duma usininha qualquer.
— Exatamente. Vêm das Glândulas Sudoríparas e das Glândulas Lacrimais, usininhas produtoras do suor e das lágrimas.