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A REFORMA DA NATUREZA
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Dias depois, entretanto, os jornais repetiram a notícia mais ou menos em iguais termos, mas já com a Coisa em outro lugar. Fora vista em Catanduva, no Estado do Paraná. Depois apareceu em Pilão Arcado, na Bahia. E depois em Blumenau, no Estado de Santa Catarina; e em Vassouras, Estado do Rio. E sempre da mesma maneira: descia do céu como desce uma bala de canhão, numa curva; sentava-se em terra; e, de repente, pulava de novo, desaparecendo no ar.

A repetição do caso fez que os homens de ciência se interessassem pelo assunto. O pavor nas cidades em que o monstro aparecia era enorme. Lendas se formavam, as mais absurdas. Era opinião geral tratar-se duma pulga gigantesca, porque não só a Coisa tinha o jeito duma pulga, como o seu modo de pular era o da pulga.

Pedrinho interessou-se vivamente pelo caso; começou colecionar as notícias e a compará-las. O absurdo, porém, era tamanho que ele chegou à conclusão de tratar-se duma tremenda patifaria dos jornais do país e de fora, com o fim de criar um assunto que aumentasse a venda avulsa.

— Bobagem — disse ele. — A mim é que não engazopam, esses trouxas.

Estavam nesse ponto, quando apareceu no Sítio o Zé Candorra, um caboclo feio que morava nas vizinhanças.

— Que há, Candorra? — perguntou Dona Benta ao recebê-lo na varanda.

— O que há, Dona Benta, é que vou me mudar desta zona e vim oferecer meu sítio. A terrinha é boa para mandioca e milho. A senhora faz um negocião. Dou "quage" dado.

— Mas por que, meu caro, quer mudar-se duma terra onde morou toda a vida?

O caboclo inventou um pretexto qualquer. Dona Benta, porém, que era "psicóloga", viu que ele estava mentindo, e disse:

— Conte a verdade, Candorra. Estou lendo nos seus olhos que a razão não é nada disso que sua boca está dizendo. Fale a verdade, porque eu compro o seu sítio de qualquer jeito, seja lá qual for a causa da sua mudança.

O caboclo, desmoralizado, resolveu dizer tudo.

— Não vê que duns tempos pra cá eu ando meio assustado? Outro dia entrei no mato para colher umas brejaúvas e, de repente, que é que a senhora imagina que eu vi?

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