Hércules lá na Grécia: amassava-lhe a cabeça com uma pelotada, depois cortava-lhe o pescoço.
Mas nada acharam; por maior que seja uma formiga, não é fácil encontrá-la no meio da mata, de modo que a excursão esteve a pique de falhar. Pedrinho só encontrou dois periquitos e um tucano, aos quais não fez nada porque perto de Narizinho ele não tinha ânimo de usar o bodoque. A menina não admitia periquiticídios nem tucanicídios.
— Qual, Seu Candorra! — disse ele. — Parece que o caso é mesmo como vovó disse: alucinação. Vocês, gente do mato, enxergam muita coisa que não existe. É o medo. Nada para criar monstros como o Senhor Medo.
— Mas eu juro que vi, Pedrinho! Vi com estes olhos que a terra há de comer. E minha mulher também. Então, se não fosse verdade, tinha ela fugido com as crianças para a casa do compadre Zidoro, que é uma bisca?
— Está bem. Se você jura, é outra coisa. Tenho de acreditar. Mas é uma pena que essa formiga só apareça para você e sua mulher.
Nem bem acabou de dizer isso e uma frialdade de sorvete lhe correu pela espinha. Qualquer coisa estava-se mexendo na moita próxima.
— Pssiu!
Pedrinho aproximou-se pé ante pé, com o bodoque apontado. Foi chegando, chegando ... De repente — prr! uma coisa enorme saltou da moita e sumiu no ar.
Pedrinho ficou de coração aos pinotes. Voltou correndo para perto da menina e do caboclo.
— Que susto!... Pude ver bem. Não era a formiga gigante, não, mas um grilo assim do tamanho do Rabicó! Eu podia ter atirado, mas minha mão tremeu na hora. Um grilão verde. Assim que me percebeu, armou pulo e sumiu no céu.
Narizinho estava impressionadíssima.
— Eu também vi — disse ela, — e se é assim, a história da formiga-monstro pode ser verdadeira, e também a história daquela Coisa Preta que pula! O Candorra e os jornais estão certos. Que poderá ser isso, santo Deus? Mudanças assim nos animais da natureza são coisas de que os livros não falam. Nunca houve.
— Não sei — disse Pedrinho. — Estou com as idéias atrapalhadas. Não compreendo nada de nada.
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