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Página:A Reforma da Natureza (12ª edição).pdf/56

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MONTEIRO LOBATO

Voltaram para casa correndo.

— Vovó, — disse Pedrinho ao entrar — não encontramos a formiga do Candorra, mas a história deve ser certa, porque dei com um grilo do tamanho do Rabicó e não foi alucinação. Narizinho e o caboclo também viram quando o grilão pulou da moita e lá se foi! ...

Dona Benta arregalou os olhos. Tia Nastácia, que ia passando, murmurou "Credo!" e fez três pelo-sinais.

— Se as coisas aqui vão ficar como lá na tal Grécia, eu me mudo do mundo — resmungou a preta.

— E para onde vai, boba? — perguntou a menina.

— Volto para a Lua. Lá ao menos só há o dragão de São Jorge, que é manso. Grilo do tamanho de Rabicó, formiga do tamanho de tatu, pulga do tamanho de anta — isto então é vida? Se todos os bichos começam a aumentar de porte e invadem a casa da gente, onde iremos parar? Se aparece aqui uma formiga desse tamanho, eu morro de medo — ah, se morro! . . .

— Pois eu prego-lhe uma bodocada — disse Pedrinho. — Se fosse vespa, vá lá; mas formiga... Medo não tenho.

CAPITULO IV

A NOVENTAEQUATROPEIA



DIAS DEPOIS, a pobre tia Nastácia quase realmente morreu de medo. Estando a fazer pamonha de milho verde, foi ao mato em busca de folhas de caeté, para enrolá-las. A moita de caetés era uma grota, por onde passava um riacho. Estava a pobre preta cortando as folhas com o facão de Pedrinho, quando, de repente, deu um grito. Largou tudo e voltou para casa na velocidade de cem quilômetros por hora.

Entrou sem fôlego, esbaforida:

— Ah, ah, ah ...

— Que é isso, Nastácia? Que aconteceu?

E a negra:

— Ah, ah, ah...