Página:A Relíquia.djvu/337

Wikisource, a biblioteca livre

Mas subitamente um grito varou o céo no alto da collina, supremo e arrebatado como o de uma libertação! Os dedos frouxos do velho emmudeceram entre as cordas de metal: com a cabeça descabida, a corôa do louro épico meio desfolhada, parecia chorar sobre a lyra hellenica, d’ora em diante e para longas idades silenciosa e inutil. E ao lado a criança, tirando a flauta dos labios, erguia para as cruzes negras os olhos claros — onde subia a curiosidade e a paixão d’um mundo novo.

Topsius pediu ao velho a sua historia. Elle contou-a, com amargura. Viera de Samnos a Cesarêa, e tocava o konnor junto ao Templo d’Hercules. Mas a gente abandonava o puro culto dos heroes; e só havia festas e offrendas para a Boa Deusa da Syria! Acompanhára depois uns mercadores a Tiberiade: os homens ahi não respeitavam a velhice, e tinham corações interesseiros como escravos. Seguira então pelas longas estradas, parando nos postos romanos onde os soldados o escutavam; nas aldeias de Samaria batia ás portas dos lagares; e para ganhar o pão duro tocára a cythara grega nos funeraes dos barbaros. Agora errava alli, n’essa cidade onde havia um grande Templo, e um Deus feroz e sem fórma que