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Página:A Relíquia.djvu/399

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— Oh, titi!

— Oh, menino!

Larguei o caixote santo, cahi no seu peito sêcco; e o cheirinho que vinha d’ella a rapé, a capella e a formiga, era como a alma esparsa das coisas domesticas que me envolvia, para me fazer reentrar na piedosa rotina do lar.

— Ai filho, que queimadinho que vens!...

— Titi, trago-lhe muitas saudades do Senhor...

— Da-m’as todas, dá-m’as todas!...

E retendo-me, cingido á dura táboa do seu peito, roçou os beiços frios pelas minhas barbas — tão respeitosamente como se fossem as barbas de pau da imagem de S. Theodorico.

Ao lado, a Vicencia limpava o olho com a ponta do avental novo. O Pingalho descarregára a minha mala de couro. Então, erguendo o precioso caixote de pinho de Flandres benzido, murmurei, com uma modestia cheia de unção:

— Aqui está ella, titi, aqui está ella! Aqui a tem, ahi lh’a dou, a sua divina Reliquia, que pertenceu ao Senhor!

As emaciadas, lividas mãos da hedionda senhora tremeram ao tocar aquellas táboas que continham o principio miraculoso da sua