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Página:A Relíquia.djvu/432

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as chinelas que embrulhei n’um numero da Nação. Sem reparo, agarrei d’entre as malas um caixote com bandas de ferro: — e em ponta de botins desci a escada da titi, encolhido e rasteiro, como um cão tinhoso vexado da sua tinha.

Mal transpuz o pateo, a Vicencia, cumprindo as ordens sanhudas da titi, bateu-me nas costas com o portão chapeado de ferro — desprezivelmente e para sempre!

Estava só na rua e na vida! Á luz dos frios astros contei na palma o meu dinheiro. Tinha duas libras, dezoito tostões, um duro hespanhol e cobres... E então descobri que a caixa, apanhada tontamente entre as malas, era a das Reliquias menores. Complicado sarcasmo do Destino! Para cobrir meu corpo desabrigado — nada mais tinha que taboinhas aplainadas por S. José, e cacos de barro do cantaro da Virgem! Metti no bolso o embrulho das chinelas; e, sem voltar os olhos turvos á casa de minha tia, marchei a pé, com o caixote ás costas, na noite cheia de silencio e d’estrellas, para a Baixa, para o Hotel da Pomba d’Ouro.


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Ao outro dia, descórado e miserrimo á