Página:A Relíquia.djvu/44

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nos domingos, chegava o sujeitinho de cara rapada e vastos collarinhos, que era o snr. José Justino, secretario da confraria de S. José, e tabellião da titi, com cartorio a S. Paulo. No pateo, tirando já o seu paletot, fazia-me uma festa no queixo, e perguntava á Vicencia pela saude da snr.ª D. Patrocinio. Subia; nós fechavamos o pesado portão. E eu respirava consoladamente — porque me entristecia aquelle casarão com os seus damascos vermelhos, os santos innumeraveis, e o cheirinho a capella.

Pelo caminho a Vicencia fallava-me da titi, que a trouxera, havia seis annos, da Misericordia. Assim eu fui sabendo que ella padecia do figado; tinha sempre muito dinheiro em ouro n’uma bolsa de sêda verde; e o commendador Godinho, tio d’ella e da minha mamã, deixára-lhe duzentos contos em predios, em papeis, e a quinta do Mosteiro ao pé de Vianna, e pratas e louças da India... Que rica que era a titi! Era necessario ser bom, agradar sempre á titi!

Á porta do collegio a Vicencia dizia «Adeus, amorzinho,» e dava-me um grande beijo. Muitas vezes, de noite, abraçado ao travesseiro, eu pensava na Vicencia, e nos braços que lhe vira arregaçados, gordos