Página:A Viuva Simões.djvu/142

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Sara prendera a meia mascara de veludo ao cinto e no seu rosto largo, onde sempre a expressão de lealdade tinha suprido a falta de delicadeza, iam agora rolando duas lágrimas.

- Em que pensa? perguntou-lhe Luciano comovido, segurando-lhe na mão.

- Em meu pai! Sinto remorsos desta alegria que tenho tido hoje...

- Que criancice!

- Será! Mas que quer? Ele era tão bom! Amava-me tanto! e depois... bem sabe; é a primeira festa a que eu assisto aqui, nesta casa, onde tantas vezes vim em sua companhia! Ele era íntimo desta família... Papai e o Nunes eram como se fossem irmãos!...

Sara, excitada pelo excesso da dança e pelo aroma das flores, pôs-se a falar do comendador, relembrando os seus carinhos, o extremoso cuidado que lhe dedicava, a maneira por que se fazia criança para brincar com ela; a sua solicitude e bondade, o modo piegas com que a tratava, chamando-a: - Jojóia, meu bem!

Citava fatos, descrevendo a sua caridade modesta, a sua honradez sem mácula e a retidão do seu espírito. Dava ao pai uma auréola de santidade, sem esconder contudo a rigidez austera do seu caráter.

Luciano ouvia-a com uma atenção silenciosa simpatizando a pouco e pouco com esse homem, que ainda havia alguns dias odiara e que